terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O sexo segundo André Gurgel/Lázaro Ramos

Lázaro Ramos está fazendo, na nova novela das 9 (finalmente corrigiram, faz tempo que não é mais "das 8"), um personagem incomum para um negro, porque muito longe dos estereótipos: um palyboy "bon vivant" que coleciona gatas na cama. Alex Solnik fez, para a revista Brasileiros, uma descontraída entrevista com o ator, um dos maiores do Brasil, atualmente, que acabou enveredando por revelações inusitadas sobre comportamento sexual - pelo menos para mim e para o Lázaro, vai ver nós dois somos realmente ingênuos. Leia abaixo os trechos mais picantes. A entrevista na íntegra você lê aqui.

Brasileiros - O designer André Gurgel é um personagem inusitado dentro do repertório normalmente destinado a atores negros em uma novela da Globo, não é?
Lázaro Ramos - Eu estava muito confortável nos projetos especiais há dois anos. Ó Pai, Ó... Decamerão... Dó-Ré-Mi-Fábrica... Durante um tempo, fui noveleiro e na adolescência a minha novela favorita foi Vale Tudo. Quando Gilberto Braga me chamou, eu estava me preparando para voltar a fazer cinema. Mas era o Gilberto Braga. Eu fiz duas novelas apenas, fui chamado para fazer outras seis e não aceitei por não me identificar com os personagens e alguns deles por serem estereótipos.

Brasileiros - Em Duas Caras você fez um favelado...
L.R. -
Mas dentro de um outro contexto, um contexto de protagonismo, um personagem de qualidade que estava lá contando a história detalhadamente, não apenas para fazer número.

Brasileiros - E você teve cenas de amor, de cama, com a Débora Falabella, não foi?
L.R. -
Mas essa é uma questão supercomplexa, não é uma situação pronta. Cada personagem que eu faço é um passo, cada novela, cada filme tem uma estratégia diferenciada. Nessa, por exemplo, quando Gilberto Braga me convidou, a gente conversou muito sobre isso. Eu falei: "Gilberto, eu acho importante fazer personagens que tenham temáticas voltadas para uma reflexão social, racial, mas eu acho importante também, e também tenho desejo como artista de poder versar sobre outros assuntos, outras coisas". O Gilberto e o Ricardo Linhares são os autores da novela... Gilberto foi supercompreensivo e falou: "Vou junto com você, vou apostar em outra coisa". Mas isso acho que é resultado de reflexões anteriores. Não sei se seria possível - para mim seria possível -, mas não sei se o autor ou produtor de elenco me escalaria para um personagem como esse alguns anos atrás. O mote dele é que o sexo é uma coisa tão sagrada que ele transa com cada mulher só uma vez. É um designer muito bem-sucedido, mas tem um lado dele que é esse: uma mulher por dia.

Brasileiros - É um mau caráter?
L.R. -
Não, é um anti-herói. Ele não engana, diz claramente que vai ser uma vez só. Não promete mais nada além disso. Não fica apaixonado. É uma vez só e parabéns.

Brasileiros - É um bon vivant?
L.R. -
Ele trabalha em uma empresa, faz design para vários objetos, tem uma cadeira dele que foi exposta no MoMA.

Brasileiros - Você já sabe direitinho quem ele é, já tem o texto?
L.R. -
Eu recebi os primeiros 24 capítulos.

Brasileiros - Você vai contracenar com a Camila Pitanga, com a Deborah Secco?
L.R. -
A Camila é a mulher com a qual ele fica mais tempo, com a Deborah a relação é de gato e rato...

Brasileiros - Mulheres bonitas não vão faltar na sua cama, então?
L.R. -
Provavelmente... para nossa alegria... Se bem que cenas de cama agora estão mais restritas nas novelas...

Brasileiros - Negócio de proibir cena de sexo em novela é bobagem, primeiro a criança nem se interessa, então não assiste. Isso deforma a percepção da criança sobre sexo. Se é escondido, deve ser uma coisa feia. Quando eu era criança, achava que filho nascia de beijo...
L.R. -
Eu nunca achei isso. Eu tinha dois primos para me ensinar. Meu primo André me ensinou direitinho como é que é a coisa. Eu fiz muitas cenas de sexo em filme, em televisão fiz muito poucas. Só em Duas Caras. A minha preocupação sempre é: se a cena de sexo está contando a história ou é só com intuito voyeurístico. É muito engraçado o que eu vou te dizer. No filme Cidade Baixa, tem quatro cenas de sexo. E pode parecer loucura e subjetivo isso, mas a gente conversava o que cada cena queria dizer, qual parte da história cada cena iria contar. Cada cena tinha uma textura diferente. É um pouco como as músicas do Brecht: que não são músicas apenas para acompanhar, elas contam a história. Quando a cena de sexo é só para satisfazer o desejo de quem está visualizando, eu questiono. Sexo é uma coisa muito diferente para cada um. Eu fui fazer um filme em Portugal, chamado Grande Quilate e tinha uma maquiadora que falava muito sobre sexo. E eu comecei a filmá-la com minha camerazinha, ela me maquiando e eu filmando. E ela falou frases incríveis. Ela disse que teve uma vida sexual muito intensa, mas depois, quando chegou na menopausa, ela viu que o sexo é uma coisa tão desnecessária... Inclusive não entendia como é que a gente entrava em um buraco tão nojento! E que agora ela estava vivendo uma vida tranquila, porque ela não tinha mais necessidade de sexo, ela achava que sexo era manipulação. E mais ainda - é como eu estou batizando esse curtinha metragem. Ela falou uma frase sensacional que é assim: "Eu queria ter nascido com menopausa, assim eu teria sido menos puta. Eu achei sensacional. E ela estava muito feliz desse jeito.

Brasileiros - Pode ser propaganda enganosa. Ela estava bancando a difícil para você, vai saber. Porque com menopausa a mulher não engravida, é uma libertação sexual...
L.R. -
O problema do sexo é que todo mundo quer mandar na genitália alheia! A genitália é de cada um e cada um faz o que quer da sua genitália.

Brasileiros - Esse deveria ser o primeiro mandamento...
L.R. -
Tem um monte de fiscal de genitália por aí.

Brasileiros - É uma coisa incrível. É o tipo da coisa...
L.R. -
O que se faz entre quatro paredes, se não for ilegal, se não for um crime, o que é que tem de se meter na vida dos outros?!

Brasileiros - Essa maquiadora... Como ela se chama?
L.R. -
Sano. Olha que nome maravilhoso...

Brasileiros - Sano? Isso é nome de homem.
L.R. -
Ela é misturada... Portuguesa com outra nacionalidade.

Brasileiros - E como é que ela era ou é? Bonitinha?
L.R. -
É uma senhora bonita... Chegando nos 60, uma senhora bonita. Então, olhe, de um lado tem essa maquiadora que acha essas coisas de sexo e outro dia eu ouvi a história do músico nigeriano Fela Kuti, que casou com 27 mulheres!

Brasileiros - Tem de ter muita bala, e uma mansão para hospedar todas, como a mansão da Playboy.
L.R. -
Dá muito trabalho, eu não teria habilidade, disponibilidade nem resistência física para tanto.

Brasileiros - Nem o rapper tem. É que ele deve ter muitos amigos para dividir. O máximo que eu tive foram duas namoradas de uma vez. Isso nos anos 1980, final dos tempos de amor livre. As duas tinham o mesmo nome. Eram outros tempos. Nos anos 1960, 70, era normal transar no meio de uma festa. Você encontrava a garota, se cobria com um lençol e transava na sala mesmo.
L.R. -
Eu sou de outro tempo, o tempo do medo de pegar AIDS. Minha primeira transa foi com camisinha.

Brasileiros - É péssimo, às vezes, até você colocar, vai tudo por água abaixo!
L.R. -
É verdade. Mas o que eu curto são casamentos longos. Agora estou há cinco anos com a Taís. Antes dela, tive outros dois casos longos, de mais de quatro anos. Eu gosto de casamento.

Brasileiros - Casamento, tudo bem, mas de que forma: camas separadas, quartos separados?
L.R. -
Eu sou a favor de dois banheiros.

Brasileiros - Mas não existe quarto com dois banheiros.
L.R. -
Um fica com o banheiro do quarto, outro com o do corredor.

Brasileiros - Já sei com quem fica o do quarto. Mas, enfim, o fato é que, embora haja controvérsias, é possível viver sem sexo. Impossível é viver sem comer. Embora tenha gente que diga que está comendo luz hoje em dia, você já ouviu essa história? Gente que come luz?
L.R. -
Ah, aquela moça lá...

Brasileiros - Você acredita?
L.R. -
Não! Deve fazer um lanchinho escondido.

Brasileiros - Não acredito em jurada do Silvio Santos... foi a Flor que disse isso, não foi?
L.R. -
Ah, é? Eu já vi foi outra. Aliás, eu vi um outro. Ele foi filmado durante 14 dias sem comer. Depois, fizeram exames de sangue no cara e tudo estava normal. Na hora que trocaram a bateria da câmera, ele comeu uma bolachinha, deve ser isso... Se eu me alimentar só de sol, eu vou morrer! Vou desmaiar. Eu como pra caralho!

Brasileiros - Você falou "comer". Gozado, só em português se diz "comer uma mulher". Em inglês não existe "to eat a woman", nem qualquer outro idioma.
L.R. -
Não. E, na realidade, é o contrário: quem come é a mulher! Porque quem tem a boca é ela!

Brasileiros - Eu penso a mesma coisa. Não entendo certas expressões. Quando eu cheguei ao Brasil, criança, eu ouvia alguém dizer "pois não" e isso queria dizer sim. Enquanto "pois sim!" queria dizer não! O homem diz que come a mulher e não é nada disso...
L.R. -
Quem tem a boca é ela!

Brasileiros - É ela que está comendo você. Mas imagina você dizer, no Brasil "a mulher me comeu"! O que vão falar de você?
L.R. -
Vão dizer que saiu com travesti.

Brasileiros - Exatamente. E a outra contradição é a seguinte...
L.R. -
Mas eu acho uma frase absolutamente erótica, absolutamente sensual.

Brasileiros - Qual?
L.R. -
Eu vou te comer.

Brasileiros - Ah, é.
L.R. -
Não no sentido físico, mas no sentido de colocar para dentro, de possuir, ter lá dentro. Eu acho antropofágico.

Brasileiros - A contradição é essa. Sabe a frase do Jack Nicholson? "Eu não pago mulher para ela vir, eu pago para ela ir embora!" É mais ou menos como diria o seu novo personagem...
L.R. -
Eu tô ansioso para começar a fazer esse personagem, porque não é um lugar que eu visite muito, já deu para notar, né?

Brasileiros - O quê?
L.R. -
O lugar em que esse personagem vive, né?

Brasileiros - Que lugar é esse?
L.R. -
Eu gosto de ser bom garoto... E esse personagem é um garoto mau. E eu não frequento muito esse lugar.

Brasileiros - Qual, por exemplo? O Bahamas? Conheceu o Bahamas?
L.R. -
Não. Por que você diz isso?

Brasileiros - Porque deve ser um dos lugares que supostamente teu personagem poderia frequentar...
L.R. -
Ah... Eu quis dizer lugar na vida.

Brasileiros - Mas o Bahamas você conhece, aquele que foi fechado...
L.R. -
Ah, é daquele careca, eu vi reportagem.

Brasileiros - Começou vendendo hot dog na porta do Objetivo... Eu também não gosto desses lugares, conheci profissionalmente, mas não gosto, acho um horror... Paga-se para entrar. Eu não vejo graça naquelas mulheres. Mas tem homem que só transa com puta. E homem fino, gente que sai em coluna social...
L.R. -
Ainda hoje?

Brasileiros - Sim, ainda hoje. É universal. Como tem também pessoas acima de qualquer suspeita que escolhem mulheres por capa de revista. Não capa de Playboy, capa de revistas de família.
L.R. -
E consegue?

Brasileiros - Sim.
L.R. -
Eu estou dizendo para você que sou muito ingênuo!

Brasileiros - Conheço a história de um cara muito rico, culto, legal, só que, até por viver muito protegido, prefere conhecer mulheres por capa de revista do que em lugares públicos. E tem as pessoas que prestam esse serviço, fazem a ponte entre o cara e a moça da capa.
L.R. -
Você tem de fazer uma matéria sobre isso. Já fez uma matéria?

Brasileiros - Essa pessoa, essa mulher, começa a cercar a moça da capa. Começa levando presentes para ela, dizendo: "Olha, fulano te mandou isso". Alguma coisa de que ela goste muito e te convida para jantar. É um cara maravilhoso e tal... E ele deixa claro que não é por uma noite, é para casar, tanto que casou... Uma dessas moças da capa deu o nome do filho em homenagem àquele cara...
L.R. -
Nenhuma mulher nunca quis fazer isso comigo... Olha como eu estou mal... Eu vou sair na capa da Brasileiros?

Brasileiros - Não sei (risos).
L.R. -
Você podia me dar uma ajudazinha. De repente, liga uma milionária aí... (risos, é claro)

Brasileiros - E não é impossível. As mulheres estão mais atrevidas hoje, ao menos certas mulheres, elas é que levam os homens pra cama...
L.R. -
Eu nunca tive essa oportunidade. Não estou provocando desejo em ninguém.

Brasileiros - O personagem da Maitê Proença em uma novela atual não é assim?
L.R. -
E eu lá quero saber de personagem! (risos) Uma ricaça dessas me liga: "Lázaro, tudo bom?"... Nunca uma mulher me ligou para dizer: "Lázaro, eu quero te comer".

Brasileiros - Elas não falam assim diretamente, como os homens. Antes, provavelmente, convidam pra jantar. Mas quando estão entre elas, elas falam essas coisas e mais ainda...
L.R. -
Falam mesmo...

Brasileiros - Por mais bem comportadas que sejam na frente dos homens, em um ambiente só de mulheres, elas falam coisas cabeludas...
L.R. -
Mas o que a gente ia achar se a mulher falasse assim com a gente? Será que ia dar um tesão ou a gente iria reprimir...?

Brasileiros - Comigo não teria nenhum problema. Nunca teve. O que acaba com o tesão é a burrice. O que broxa é burrice.
L.R. -
É verdade.

Brasileiros - Pode ser muito gostosa, mas se for burra, broxa. E tem o oposto: pode ser inteligente e transar bem ao mesmo tempo. Uma das frases mais cretinas que eu já ouvi é: "A mulher ideal tem de ser uma lady na mesa e uma puta na cama". Parece que a puta tem o monopólio do prazer! A mulher para fazer sexo bem tem de ser puta.
L.R. -
Provavelmente, quando essa frase nasceu não foi com esse propósito.

Brasileiros - Será que foi em uma novela do Gilberto Braga?
L.R. -
Não, puta não pode dizer na TV.

Brasileiros - O sexo é como uma planta. Mas foi criminalizado pela sociedade, assim como a maconha...
L.R. -
Quando você fala de maconha e de tráfico, eu não tenho opinião. Vou te surpreender, todo mundo acha que eu fumo, mas eu sou careta. Quando me perguntam a respeito da descriminalização, eu não tenho resposta.

Brasileiros - Mas a respeito de mulher você tem: eu prefiro mulher pequena. Mulher grande é... muito grande.
L.R. -
Você prefere mulher pequena?

Brasileiros - Sim, é menor, ela cabe em um abraço. Não sei o que fazer com uma mulher grande.
L.R. -
Mulher grande tem lugar para pegar, Alex.

Brasileiros - Eu disse mulher pequena, não mulher magra.
L.R. -
Um amigo meu tem uma frase que é sensacional: ele gosta de mulher grande, que é pra ter o que escalar!

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