quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Rocco Siffredi: A indústria mudou porque a internet fodeu tudo.

Você pode não conhecer o nome dele, mas se assistiu a filmes pornô em algum ponto dos últimos 30 anos, provavelmente está familiarizado com o pau de 27 centímetros de Rocco Siffred. Apelidado de "o Garanhão Italiano", o ator de 52 anos já participou de mais de 1.500 filmes adultos e já transou com aproximadamente quatro vezes mais mulheres, o que o coloca no mesmo patamar de gente como Ron Jeremy e John Holmes.

Nascido Rocco Tano em Abruzos, Itália, a mãe do astro pornô inicialmente queria que ele fosse padre. Mas o coroinha tinha "o diabo no meio das pernas", como ele se refere ao próprio pênis, e uma carreira no entretenimento adulto se tornou mais ou menos inevitável quando ele começou a procurar por isso. Ele já transou com quatro gerações do pornô, estrelando longas de 35mm com roteiro e enredos, e atuando durante as eras do VHS, DVD e internet em produções XXX. Ainda assim, parece que agora Siffredi cansou da putaria. Recentemente ele anunciou sua aposentadoria, algo que já disse várias vezes no passado. Mas, como pai de dois filhos, ainda é um mistério se sua lendária piroca vai mesmo ficar longe dos holofotes.

Esses fatos biográficos, no entanto, não interessavam aos cineastas franceses Thierry Demaiziere e Alban Teurlai. Seu extraordinário documentário Rocco, que estreou recentemente no Festival de Cinema de Veneza, é um retrato que tenta desvendar o que se passa na mente do ator pornô. É um olhar introspectivo sobre Siffredi, que se abre sobre a morte do irmão, sua reação sexual à morte da mãe, seu relacionamento com a esposa e os dois filhos, e, claro, porque ele gosta tanto de realizar atos carnais diante das câmeras. Mas o filme lida principalmente com a culpa católica do ator. Tipo um Boogie Nights dirigido por Martin Scorsese.

O filme começa do único jeito possível: com um close do pênis de Siffredi. E a narrativa segue enquanto ele escolhe as atrizes para um filme que está dirigindo, entrevistando cada uma para saber se elas estão preparadas para os extremos sexuais que ele deseja mostrar, desde closes de anal a jogos envolvendo asfixia erótica. Depois os cineastas seguem Rocco até Budapeste, onde sua esposa, Rozsa Tano, mora, e depois em viagens para a Itália e Los Angeles. No filme, os diretores oferecem um vislumbre geral da indústria pornô, detalhando, por exemplo, os extremos que alguns artistas estão dispostos a ir para ter sucesso.

Uma das cenas mais angustiantes (NOTA: HEIM ???!!!) envolve uma mulher colocando os dedos de Siffred na boca, imitando um boquete, mas enfiando tão fundo que lágrimas começam a sair de seus olhos. Siffredi é fascinante, alegre e depravado ao mesmo temo. Falamos com o artista depois da estreia do documentário no Festival de Cinema de Veneza.

VICE: Por que fazer esse documentário agora? 
Rocco Siffred: Já tinham me abordado algumas vezes para fazer um documentário, o primeiro foi um diretor polonês quando eu tinha 40 anos. Naquela idade, eu não achava que tinha muito a dizer, mesmo estando na indústria há 20 anos. Depois vieram cineastas italianos, mas achei que os italianos não entenderiam a sexualidade sem preconceitos. Aí vieram os franceses [os diretores Thierry Demaiziere e Alba Teurlai]. Você pode dizer que nasci na França, pelo menos artisticamente, porque foi lá que me tornei ator pornô.Me encontrei com os diretores e eles disseram que queriam fazer um filme sobre o pornô mas precisavam de um protagonista, e eles achavam que eu podia ser essa pessoa. Depois de algumas horas de conversa, eles mudaram de ideia e disseram que queriam focar a história em mim. E acho que atingi um ponto da vida onde tudo se tornou mais problemático, então eu queria fazer esse filme como um jeito de despejar tudo que está dentro de mim. 

Você fala sobre as mortes da sua mãe e do seu irmão no documentário. Foi difícil abordar esse assunto?
Sabe, passei por muito sofrimento na minha vida. Quando você tem seis anos, perde seu irmão e vê sua mãe enlouquecer por causa da dor, é impossível continuar normal. É impossível esquecer essa dor. Do nada, você só quer fazer algo que torne a vida um pouco menos difícil. Por causa dessas tragédias, eu estava pronto para fazer qualquer coisa. 

Mas por que pornô? Eu já era sexualmente ativo aos 11 anos, e lembro que todos os outros garotos tinham zero experiência com sexo, então eu sabia que havia algo especial. Mas isso não foi o principal. O principal é que eu estava sempre tentado dar algo a minha mãe que a ajudasse com a dor que ela estava passando por causa da morte do meu irmão. Também lembro de achar uma revista quando eu tinha 13 com fotos de um cara chamado Supersex, que era um ator pornô famoso nos anos 70. Haviam fotos dele transando com uma morena, aí você virava a página e tinha fotos dele transando com uma loira, você virava a página e ele estava transando com uma ruiva, aí você virava a página e ele estava transando com as três. Eu vi aquilo e disse que queria entrar para aquele negócio. Liguei pro meu irmão mais velho, que morava em Paris, e contei isso para ele. Ele disse: "você é louco". Aos 16, liguei de novo e ele disse "você não desistiu? Você é completamente louco!" Aí liguei de novo aos 20 e ele me disse que se fosse até um clube de swing, eu encontraria alguém do pornô para me ajudar nisso. E funcionou. As pessoas me viram transando na frente de todo mundo e daquele dia em diante, minha vida mudou. Era o paraíso. 

Por que você chama seu pênis de "o diabo no meio das minhas pernas"? Porque o diabo possui seu corpo. Não é você que o possui. Por muitos anos, usei o sexo para minha conveniência. Quando o sexo começa a te usar, isso significa que você está viciado, e isso é o diabo. É a mesma coisa com drogas e álcool — tudo isso é o diabo. Quando ele está te usando, faz você fazer tudo que ele quer. Ele te faz fazer coisas que você realmente não gosta. 

Essa não é a primeira vez que você fala em se aposentar. O que aconteceu aos 40, quando você disse que só trabalharia atrás das câmeras como diretor? Tentei me aposentar pelos meus filhos. Eu queria parar de atuar diante das câmeras na época em que eles eram adolescentes e estavam prontos para começar suas vidas sexuais. Tentei fazer coisas do outro lado das câmeras para não prejudicá-los. Por outro lado, isso foi um erro. Primeiro, prejudiquei a mim mesmo parando. Segundo, comecei a procurar prostitutas duas ou três vezes por dia. Três vezes por dia: prostitutas, prostitutas, prostitutas... porque eu estava acostumado a fazer muito sexo. 

Isso afetou seu casamento? Claro, mas estou com uma mulher muito inteligente que entende minha situação. Ela me disse que eu precisava voltar a atuar. Se é disso que você sente falta, e está transando com prostitutas para substituir [a atuação], então qual o objetivo de se aposentar? 

Foi estranho para você pagar por sexo em vez de ser pago para transar? Sim, e às vezes acontecia uma coisa engraçada. As [trabalhadoras sexuais] viam meu pau e diziam "uau, que enorme, por que você não vira ator pornô?" Sério, isso aconteceu várias vezes. E eu respondia "é, vou pensar nisso". 

Como é estar sempre falando sobre o tamanho do seu pau? "Quantos centímetros tem o seu pau?" é uma pergunta que respondo com frequência, então estou acostumado. Sei que meu trabalho é o meu pênis. Sei que quando trabalho, são duas pessoas trabalhando: eu e o meu pau. Nós dois somos famosos. Na minha cabeça, isso sempre esteve claro. Não estou desapontado. Não me sinto um objeto. Trabalho com meu pau e nunca tive problemas com isso. Nunca.

Como você acha que o pornô mudou durante sua carreira? Passei por quatro gerações diferentes, e há uma grande diferença entre a época em que comecei e hoje. Antes você tinha duas cenas por semana, muitos diálogos, filmávamos em 35mm, etc. Levava mais tempo para mudar a posição da câmera, as luzes e tudo mais, então o sexo era curto. Havia muito diálogo, muita comédia e muita estrutura. Hoje é apenas sexo, muito sexo e zero diálogo. Não tem mais romance. São apenas tomadas diferentes do corpo feminino: tomadas dos peitos, tomadas apenas dos pés, tomadas do anal. Ultimamente, a maioria das garotas faz tripla penetração anal, e às vezes você nem toca nela; são só três paus enfiados juntos. Isso é completamente diferente do que costumava ser o pornô. 

E isso é melhor ou pior? É muito pior. Eu, alguém que transa com uma mulher com o coração, preciso de conexão, preciso usar minhas mãos, preciso do cheio, preciso do poder. Preciso usar tudo isso. Hoje, eles não têm tempo para nada disso. Eles não dão a mínima. Eles só precisam dos corpos. Corpos, corpos, corpos. Gente nova. Paus novos. Não gosto de sexo sem conexão. Não temos mais dinheiro para fazer [narrativas longas] como antigamente. A indústria mudou porque a internet fodeu tudo. Ninguém tem dinheiro para fazer grandes filmes com enredo. Gosto da internet porque isso ainda dá a pessoas que não tem dinheiro, que vivem em países onde as garotas são invisíveis, a oportunidade de sonhar em ver uma garota bonita fazendo coisas incríveis. Por outro lado, infelizmente, isso destruiu completamente a indústria. Tem sexo grátis por todo lado, então por que pagar? 

Você conseguiu fazer Kelly Stafford sair da aposentadoria para seu último filme. Por que isso era importante? Kelly é a maior atriz pornô para mim. Ela é A atriz pornô. De certa maneira, ela é como seu eu fosse mulher.

Ela é mais poderosa que você por ser é mulher? Cem por cento. Sem dúvida. Ela é muito poderosa. Sinto atração por pessoas que são especiais. Pessoas especiais sempre me atraíram. Quando alguém diz "essa pessoa é louca", quer dizer que ela deve ser inacreditável. Não gosto de gente normal. Eles sempre me entediam. 

Você acha que algum dia vai realmente se aposentar?

Foi o que eu disse depois desse filme, nunca mais vou responder essa pergunta. Quer dizer, nunca vou dizer que vou me aposentar ou que vou voltar. No momento estou fora, mas não posso dizer que não vou voltar. 

Para mais informações sobre o filme Rocco, visite o site do projeto.

 
Tradução: Marina Schnoor

VICE

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