(**) A prostituição
no Brasil faz parte de um espectro tão marginalizado que não é incomum
ver pessoas bem estudadas e supostamente bem informadas tratando as
trabalhadoras sexuais como uma massa uniforme. É nesse contexto que Monique Prada,
que é prostituta, criadora do site Mundo Invisível e também uma das
idealizadoras da Central Única de Trabalhadoras Sexuais (CUTS), lança
seu primeiro livro Putafeminista pela coleção Baderna da Editora Veneta no dia 25 de agosto.
“Não
somos mais invisíveis”, exclama Prada em uma das páginas do livro. A
autora, que encontrou na internet um espaço de debate, conta como a rede
mundial de computadores foi um dos principais meios para dar voz e
rosto para essas profissionais. Monique também desmistifica erros
bastante comuns que rondam o tema, como a exploração sexual infantil, um
crime que costuma ser colocado no mesmo balaio da prostituição (que não
é crime), além de explicar que é possível ser uma mulher feminista e
trabalhadora sexual sem ter vergonha disso.
Longe dos clichês da Bruna Surfistinha e do glamour forçado que
costuma-se empurrar para essas mulheres, a escrita direta e ácida de
Monique descreve também o moralismo e a hipocrisia dentro de movimentos
ditos progressistas, que seguem dando cambalhotas ideológicas para não
reconhecer a luta das prostitutas. “Eu, quando comecei a frequentar os
ambientes de militância, aqueles onde as pessoas deveriam ser menos
preconceituosas, precisava lidar com pessoas me tratando como imbecil
todo o tempo, falando devagarinho, pra que eu entendesse as suas
palavras. Me explicando sobre temas que eu conhecia melhor que elas.
Cuidando suas coisinhas pra que eu não as roubasse. Não deixa de ser
engraçado, até por que a única coisa que elas sabiam sobre mim era isso:
Monique é uma puta. (...) Eu sempre me diverti com a hipocrisia das
pessoas. Certamente muito mais do que elas imaginam”, conta em
entrevista por e-mail à VICE.
Para além disso, o leitor também tem a oportunidade de entender o que
é a prostituição brasileira e seus percalços legais sem mediadores
acadêmicos suavizando palavras e situações. Se trata, afinal de contas,
da escrita de uma mulher, uma mãe, uma puta e uma brasileira. Ainda que
exista um véu sobre quem são essas mulheres e siga corrente a ideia de
que elas precisam ser salvas, Monique deixa claro que as trabalhadoras
sexuais escutam seus clientes mais do que as pessoas imaginam. “Todos os
trabalhadores passam por ali. E as putas? Ainda que não obtenham apoio
para suas próprias reivindicações, estão atentas. Acredito que devemos
esperar pela grande revolução, essa onde as putas defendem também os
seus direitos, e em especial o direito de andar de cabeça erguida no
meio das pessoas”, frisa.
O próprio título do livro sugere ao
leitor considerar a existência de uma corrente do feminismo onde as
putas, óbvio, são as protagonistas e donas de suas próprias narrativas.
Prada também questiona as “soluções” oferecidas por políticos de
bancadas conservadoras e feministas que não reconhecem a prostituição
como trabalho sexual para extinguir a categoria. Essas sugestões e
conceitos de um mundo sem a figura das putas são chamadas de “utopia
distópica” pela autora.
“Num período em que as políticas de austeridade tomam o mundo,
esperar que um grande número de mulheres pobres não recorram à
prostituição para seu sustento e de suas famílias é um erro”, argumenta.
“Ao mesmo tempo, há uma guerra mundial contra a prostituição e contra
as prostitutas. Se tenta banir a prostituição através de leis em vários
países, se discute as supostas benesses do modelo sueco, implantado -
sem sucesso, e como parte de um pacote grande de medidas para a
igualdade de gênero - na Suécia em 1999 e agora reproduzido na França.
Estamos em 2018 e as trabalhadoras sexuais na Suécia, que em 1999
passavam pouco de 500 anunciantes, já contam mais de cinco mil (os dados
são do governo sueco, e devem constar do dossiê de Pye Jacobson sobre o
fracasso das políticas de ‘abolicionismo’). O que se consegue com essas
leis? Um status de indigente moral para as trabalhadoras sexuais, em
uma realidade de preconceito e segregação. Muitas das leis sobre
prostituição ao redor do mundo também visam atacar pessoas migrantes que
desejam ou precisam, ou ambas as coisas, exercer o trabalho sexual em
um país que não seja o seu país de origem. São leis baseadas em
xenofobia.”
Acima de tudo, o livro de Monique não pretende pregar
para convertidos, mas também informar e convidar o leitor a ver a
prostituição sob a perspectiva de quem vive disso sem utilizar recursos
clichês da “puta feliz” da “puta rica” ou da “puta coitada”. “A
sociedade nos divide em dois modelos, às vezes mesmo mixando ambos,
conforme sua conveniência. A puta rica, como julgam ter sido a Bruna
Surfistinha - uma visão bastante torta, considerando o que ela mesma
relata em livro, uma garota que precocemente saiu da casa dos pais e viu
na prostituição um meio de sobrevivência temporário. Ou algo que remeta
ao sofrimento, à devassidão, ao abuso de drogas e à precariedade. Que
uma mulher possa ter o trabalho sexual através da prostituição como meio
de garantir uma vida financeiramente digna para si e para os seus não
lhes ocorre”, finaliza. /////////////////////////////////
(*) Monique Prada não é uma mulher comum. A forte personalidade, com fala
pausada e ponderada, é comparável apenas à marcante presença online em
seus perfis nas redes sociais. Entre suas grandes ousadias, está o fato
de ser uma mulher que ousa ser feminista, sexuada e inteligente ao mesmo
tempo.
Para todos os casos, não poupa palavras – escritas, na
maioria das vezes. Monique é prostituta e divide seu tempo entre o
trabalho que lhe provém sustento e a atuação como feminista que
extrapola a esfera virtual. Se todo ato é político, ela leva a máxima a
todos os lugares, até para a cama. "Mesmo quando estou entrando em um
trabalho, tenho a liberdade de falar alguma coisa graças à internet do
telefone. Não é que eu fique parada num escritório fazendo o meu
ativismo, estou na rua, em qualquer lugar”, conta.
Numa tarde de feriado fria e cinza na capital gaúcha, Monique aparece
para um encontro com a reportagem em que falará da batalha pelos
direitos das prostitutas e pelos das mulheres. Vive e fala sobre
prostituição, ativismo e feminismo, intensa e furiosamente, o que, às
vezes, não deixa de lhe trazer contratempos. “A partir do momento em que tu começa a falar, o teu trabalho começa a
dar uma despencada”, revela, ponderando que já deve ter perdido alguns
clientes. “Não é uma interação que se espere de uma prostitua, que tenha
opinião e que, eventualmente, essa opinião entre em conflito com a tua.
Não é conveniente, mas eu já tenho uma lista de clientes bem antiga,
então não chega a me prejudicar gravemente”, afirma Monique, que é
prostituta desde os 19 anos e ativista há cinco.
Acontece de, é claro, ela deixar a cama de alguém em função de algum
tópico sensível. Outras vezes, deixa a política pra lá: “Conversamos
muito o tempo todo [online], então, quando encontro com eles,
prefiro o sexo”. Acontece ainda de ser procurada justamente por seus
posicionamentos. “Um cliente me seguia no Twitter e começou a me chamar
pra sair, como se fosse pra me convencer de que o que ele fez foi uma
coisa boa”, lembra ao falar de um militar que participou da ditadura no
Brasil.
Monique defende os direitos das minorias e não recusa trabalho por
conta de visões reacionárias. “Mas não escreveria para um portal de
direita”, garante a coeditora do Mundo Invisível,
um site que trata de temas LGBT, feministas, da prostituição e de
direitos de cada um dos grupos. Com a tradução também de artigos
publicados no exterior, o portal ajuda a expandir a educação sobre o
tema.
Com base na premissa, ela mantém uma carta de clientes de longa data,
numa história que começou por um impulso já desde muito cedo sentido:
tinha curiosidade em fazer sexo com estranhos. “Acontecia de eu pegar
uma carona ou outra e fazer sexo”, revela. Mais sobre sua trajetória?
Silêncio. "Não faz sentido [falar disso]", justifica.
A opção pelo trabalho sexual não foi fácil. Aos 19 anos, era
estagiária do Ensino Médio e ganhava muito pouco. “Você tem que conviver
num mundo em que há pessoas com poucas opções. Há pessoas que têm a
opção de catar lixo ou de fazer um trabalho doméstico ou sexual.
Considero que há uma condição mais empoderadora no trabalho sexual.
Parece melhor trabalhar com sexo, mas todo trabalho tem seu lado
complexo”, avalia.
Monique defende a profissão como uma escolha, mas lembra que ser
trabalhadora sexual não é aquela imagem bonita da prostituta jovem que
quer pagar os estudos e sustentar a família, como é representado nas
novelas. “É uma escolha muito difícil, tem um estigma muito grande. Do
meu trabalho eu gosto, as consequências dele é que são desagradáveis.”
Muito da visão preconceituosa que é mostrada do trabalho sexual parte
de um entendimento que há na atividade exploração da mulher. É o que
Gabriela Leite, a primeira prostituta a militar em favor dos direitos
das trabalhadoras sexuais no País e fundadora da Rede Brasileira de Prostitutas,
tentava explicar, lembra Monique: “Há a prostituta que vai fazer
qualquer coisa por uma pedra. Para essa moça, se você pedir que ela faça
um malabarismo, ela vai fazer. Ela não é uma profissional, ela está
lutando pelo direito dela”. O mesmo serve para uma mulher que troca sexo
por comida.
Gabriela faleceu em outubro de 2013 e deixou o “movimento órfão”,
segundo Monique. Por isso, o aparecimento de militantes como ela se
torna ainda mais importante para dar seguimento ao trabalho e promover
pautas que estão há muito engessadas. Mesmo contando com um apoio
emergente de ativistas feministas no mundo todo, a escolha da
prostituição como profissão é alvo de críticas. “Somos vistas como vítimas, como na Síndrome de Estocolmo. E não
somos, estamos trabalhando. Todas as pessoas exercem seu trabalho e
precisam de algum modo se submeter aos patrões. O desafio do trabalhador
sexual é não se submeter ao desejo alheio, simplesmente”.
Para Monique, ser prostituta e feminista ao mesmo tempo é possível, e
buscar este ponto de convergência é uma das missões que ela assumiu
para 2015, cinco anos depois de ter assumido o ativismo digital. “A sexualidade da mulher é uma coisa clandestina. Enquanto o homem
pode e deve expor o quanto ele é promíscuo, conquistador, maravilhoso,
nós nos escondemos. E imagina como é isso para uma prostituta que tá lá
na esquina, ou na esquina da tua internet, no site, sempre de rosto
coberto, de nomes trocados, com muito medo.”
Aos poucos, ela deixa a clandestinidade com o apoio de seus
interlocutores na internet, da família e de movimentos espalhados pelo
mundo. “Mas a personagem Monique deixou de existir pra mim faz tempo”,
garante a prostituta que sempre trabalhou longe da abordagem direta.
"Sou muito tímida."
O estigma que acompanha o sexo feminino é muito maior se pensado sob a
ótica da trabalhadora sexual, que não tem direitos trabalhistas – uma
luta que a gaúcha também abraçou, organizando um debate na Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul para discutir os problemas da
profissão e seus possíveis rumos.
No cerne da questão, balizada pelo Projeto de Lei (PL) Gabriela Leite,
de Jean Wyllys (PSOL-RJ), está a regulamentação do trabalho sexual e a
descriminalização da prostituição em locais privados – que atinge não só
as casas de prostituição, mas também os espaços privados das
prostitutas, suas próprias camas. A prostituição é uma profissão
reconhecida pelo Código Brasileiro de Profissões desde 2002.
O trabalho de Monique é uma forma de afirmar o poder feminino frente
às visões conservadoras que ainda persistem. O que não deveria
separar as mulheres, mas uni-las, numa forma de luta contra o status
quo, que mantém o feminino refém de uma criação social fundamentada no
patriarcado. “A pior ofensa para uma mulher é ter uma vida sexual, e uma
vida sexual ativa, mudar de parceiros. Esse é o estigma da puta”,
explica.
Um estigma e um preconceito que não se encerra nas mentes
conservadoras ou masculinas, como se bem sabe: “Não tem a ver com cobrar
por sexo. Tem a ver com regular o sexo das mulheres. Nós vigiamos a
sexualidade uma da outra, nós mesmas reprimimos. Não entendo como nos
convenceram disso”.
* #cartacapital - por Fernanda Morena
** VICE - por Marie Declercq
#
xxxscarro napalm
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
pornografia e feminismo ...
Para mim, a palavra feminista é repleta de conotações por vezes conflituosas. Quando as feministas lutam pelo direito de todos serem pagos de maneira justa, defendendo especificamente a correção das desigualdades entre o salário para mulheres e para homens, ou defendem o direito de acesso ao controle de natalidade para todas as pessoas com útero eu acho uma coisa maravilhosa. Quando as feministas perseguem alguém que não é biologicamente mulher ou infantilizam as mulheres que fizeram escolhas que as desagradam, eu acho muito ofensivo. Quando as feministas debatem se o ato de passar batom é algo que concede poder às mulheres ou não, eu acho trivial. Mas discordar de alguns dos extremos do feminismo não é a razão pela qual me sinto frequentemente desconfortável em me dizer feminista. Acho conflitante aplicar o rótulo a mim mesma porque raramente faço algo com o propósito específico de promover os direitos das mulheres. Mas evitar dar uma resposta direta sobre se sou feminista ou não é meio que fugir da responsabilidade. Me esquivar desta palavra, para mim, seria ignorar todas as mulheres que lutaram para me dar as vantagens que tenho hoje. Então aí vai: Oi, eu sou a Stoya. Minhas perspectivas políticas e eu somos feministas... Mas meu trabalho não é.
O conceito de escolha pode ser complicado. É diferente escolher entregar sua carteira para alguém que aponta uma arma para sua cabeça e escolher dar dinheiro a alguém por altruísmo ou por querer presentear essa pessoa. Há uma diferença análoga entre entrar para o trabalho sexual por pressões financeiras e falta de outras opções (seja essa falta percebida ou factual) ou se tornar um trabalhador sexual por exibicionismo, desejo pela experiência ou porque você quer mesmo, mesmo, mesmo transar com James Deen, Rocco Siffredi ou quem quer que seja.
Uso meu corpo para fazer pornografia de gênero binário e orientação heterossexual para uma produtora que visa ter o maior apelo às massas possível. Não concordo com tudo na maneira como a pornografia mainstream ou a companhia específica para a qual trabalho operam, mas escolho minhas batalhas. Consumo muitas calorias porque ossos protuberantes no quadril são mais preocupantes do que excitantes para a maioria das pessoas. Também cubro minha pele com uma quantidade insana de meleca com regularidade. Quando chego para filmar, eu me sento numa cadeira e deixo o maquiador e o cabeleireiro fazerem seu trabalho, o de me deixar com a aparência mais convencionalmente sexy possível. Esse processo envolve com frequência cílios postiços e babyliss. Quando eles acabam, eu geralmente calço saltos altos, alguma lingerie fantasticamente impraticável e, às vezes, outras peças de roupas coerentes com qualquer que seja o personagem que interpreto na cena que antecede o sexo.
Depois que o diálogo é gravado, transo com uma ou mais pessoas enquanto a equipe de filmagem captura tudo em vídeo. Meus parceiros sexuais diante das câmeras são pessoas com quem quero fazer sexo e, pelo menos espero, pessoas que querem fazer sexo comigo. Pelo menos uma dessas pessoas quase sempre tem um pênis e a cenas seguem certo arco narrativo. Elas começam com beijos que levam à remoção das roupas. Quando os genitais em questão estão visíveis, o sexo oral é realizado. A penetração sexual (especialmente pênis na vagina) vem depois, em várias posições. Às vezes, mais sexo oral acontece entre as posições e, ocasionalmente, algum sexo anal. Aí o performer masculino ejacula e a cena acaba logo depois, porque o clímax masculino é, bem, um clímax natural e as cenas de sexo em geral não pedem pela conclusão da ação ou um desfecho.
Como entretenimento, a pornografia mainstream é tão responsável por educar os espectadores sobre saúde ou etiqueta sexual quanto o Lions Gate é responsável por lembrar às crianças que não é certo matar outras pessoas, apesar do que elas viram no filme Jogos Vorazes. Não faz parte do trabalho do Michael Bay ou da Megan Fox mencionar em cada entrevista que robôs gigantes do espaço são ficcionais, nem é o trabalho de todo artista pornográfico discutir os protocolos de teste de saúde da indústria, ou como o consentimento é dado antes de cada filmagem. No entanto, sinto a necessidade de discutir esse tipo de coisa e outros artistas – como Jiz Lee, Danny Wylde e Jessica Drake – que sentem necessidade de destacar o contexto já disponível dos filmes adultos e fornecer um contexto adicional.
Adeus, britadeira: Os ângulos ginecológicos e as transas a marteladas do pornô tradicional nunca agradaram à sueca Erika Lust. Cansada de categorias como hardcore e extreme, ela decidiu investir em uma nova vertente erótica: a feminista. Nela, já lançou quatro filmes, três deles premiados no Feminist Porn Awards. Cabaret desire, um de seus filmes mais premiados, começa numa noite de leitura de contos eróticos. Erika conversou com a revista Tpm por e-mail e conta, aqui, que tipo de cena merece lugar nos seus roteiros. Também explica por que outras, como sexo anal e gozo no rosto, ficam de fora. “O sexo ainda é uma questão política.”
Tpm. Seus filmes foram pioneiros do pornô feminino. Acha que algum dia a distinção entre pornô para homens e para mulheres vai deixar de existir?
Erika.
Acho que o pornô sem rótulos de gênero seria bacana. Mas, honestamente,
a diferença de apelo e estética entre os dois tipos é tão evidente que
se torna difícil conciliá-los. Espero, em vez disso, que o pornô evolua
até uma variedade grande, para todo tipo de público. Hoje vemos uma
amostrinha disso na cena independente.
Que tipo de roteiro considera excitante para as mulheres? Não
posso falar por todas as mulheres, mas, na minha opinião, são as
situações em que a imaginação não precisa ir muito longe para atingir o
nível “muito sexy”. Cenas como: uma massagem que se torna sensual,
reencontrar um flerte antigo, ver alguém fazendo sexo, ir para a cama
com o vizinho com quem você fantasia há meses, essas coisas.
Você costumava assistir a filmes eróticos antes de começar a filmá-los? O que achava deles? A
pornografia mainstream que via quando jovem – e, mais tarde, na
universidade, quando estudava sexualidade e feminismo – era horrível.
Mesmo que o filme me despertasse alguma imaginação, o resto era péssimo:
o contexto, a fotografia, os personagens e o rumo do sexo. Tudo era tão
estéril e previsível, muito diferente das experiências reais de sexo.
Que filme a excita? Um dos meus favoritos é O amante (1992), de Jean-Jacques Annaud. Se passa no Vietnã, quando o país era colonizado pela França. É baseado na história real de um amor impossível entre uma francesa e um rico negociante chinês. A fotografia ainda prende minha respiração. Sua sensualidade é irresistível.
Que filme a excita? Um dos meus favoritos é O amante (1992), de Jean-Jacques Annaud. Se passa no Vietnã, quando o país era colonizado pela França. É baseado na história real de um amor impossível entre uma francesa e um rico negociante chinês. A fotografia ainda prende minha respiração. Sua sensualidade é irresistível.
Vê seu trabalho como algo político? Às
vezes, me sinto uma política quando represento o erotismo indie e
dissemino a mensagem de uma sexualidade favoravelmente feminina. Então,
de um modo estranho, minha formação em ciência política [Erika estudou
na Universidade de Lund, na Suécia, uma das mais prestigiadas da Europa]
me deu ferramentas valiosas para o meu trabalho. É triste dizer isso,
mas o sexo ainda é uma questão política.
Você tem duas filhas. Como planeja falar com elas sobre sexo e erotismo? Minhas
filhas são muito novas, então ainda não planejei essa conversa. Mas são
duas coisas diferentes e, por isso, pretendo falar sobre erotismo
somente após a terceira ou quarta conversa sobre sexo, quando sentir que
a base está sólida. Cada criança é diferente, então introduzir esses
tópicos vai depender do desenvolvimento delas, não da idade.
Na sua opinião, o que as mulheres têm a ganhar assistindo a filmes eróticos? Algumas mulheres tiveram experiências ruins com o pornô mainstream e simplesmente dizem: “Não é para mim”. Mas garanto que, se elas encontrarem alguma forma de erotismo que as agrade, o papel do sexo em suas vidas mudará drasticamente.
Na sua opinião, o que as mulheres têm a ganhar assistindo a filmes eróticos? Algumas mulheres tiveram experiências ruins com o pornô mainstream e simplesmente dizem: “Não é para mim”. Mas garanto que, se elas encontrarem alguma forma de erotismo que as agrade, o papel do sexo em suas vidas mudará drasticamente.
Seu último filme, Cabaret desire, venceu cinco importantes prêmios do cinema pornô até agora. Como é ser tão reconhecida como uma das melhores criadoras em sua categoria? Quando você tem vontade e paixão por uma coisa que ninguém mais está fazendo, no começo pode parecer que está nadando contra a corrente, fazendo algo solitário e exaustivo. Por isso, conquistar o reconhecimento com Cabaret desire foi incrível. Além dos prêmios, sou sempre grata aos fãs, que demonstram gostar do que estou fazendo. Isso me impulsiona.
ÉPOCA - Por que a senhora decidiu se dedicar à pornografia?
Erika Lust - Quando eu comecei a assistir a filmes pornôs, vi um mundo com o qual eu não conseguia me identificar. Sentimentos que eu não sentia, situações que não expressavam a minha sexualidade, nas quais as mulheres eram apenas objetos para o prazer dos homens. Eu não via as mulheres buscando o próprio prazer, não as via representadas da maneira que eu gostaria de ver. Mas, de alguma maneira, aqueles filmes me provocaram. Um ato sexual provoca você - aliás, essa é a ideia do pornô. Alguma parte de mim gostou do que viu, então, eu pensei “Por que aquilo não poderia ser diferente?”. E vi que poderia ser. Se eu posso fazer sexo da maneira que eu quero, por que não posso mostrar desse jeito?
ÉPOCA - Que elementos um filme tem de ter para ser definido como feminista?
Erika Lust - Quando eu comecei a assistir a filmes pornôs, vi um mundo com o qual eu não conseguia me identificar. Sentimentos que eu não sentia, situações que não expressavam a minha sexualidade, nas quais as mulheres eram apenas objetos para o prazer dos homens. Eu não via as mulheres buscando o próprio prazer, não as via representadas da maneira que eu gostaria de ver. Mas, de alguma maneira, aqueles filmes me provocaram. Um ato sexual provoca você - aliás, essa é a ideia do pornô. Alguma parte de mim gostou do que viu, então, eu pensei “Por que aquilo não poderia ser diferente?”. E vi que poderia ser. Se eu posso fazer sexo da maneira que eu quero, por que não posso mostrar desse jeito?
ÉPOCA - Que elementos um filme tem de ter para ser definido como feminista?
Erika -
Eu acho que não importa se chamamos um filme de “pornô feminista” ou
“pornô para mulheres”. Eu luto para as mulheres terem voz no audiovisual
adulto. A única coisa que importa é podermos falar. E eu sei bem o
que as minhas amigas e eu não queremos ver: caras mafiosos, armas,
prostitutas, mansões enormes, garotas com silicone, carros
esportivos.... Nós não precisamos dessas coisas para nos excitarmos. Nós
queremos pessoas reais, vivendo situações reais. Nós queremos saber por
que essas pessoas estão fazendo sexo.
ÉPOCA - Os pornôs feministas podem mudar a visão da sociedade sobre a sexualidade da mulher?
Erika - Nós vivemos hoje em uma sociedade “pornoficada”. A pornografia tem uma presença enorme na internet, é vista nos meios de comunicação de massa, enfim, ela saiu do armário onde esteve escondida por um bom tempo. Nesse contexto, é muito importante que as mulheres tenham uma postura crítica em relação a esse fenômeno. Os valores que são apresentados na pornografia devem ser continuamente analisados e questionados. O que os homens veem e aprendem com os pornôs nos afeta profundamente em nossa vida diária como mulheres. Muitos preconceitos contra a sexualidade feminina vieram do pornô, graças à ausência ou escassez de outras influências. Eu acredito que, se as mulheres participarem dessa discussão, nós teremos uma oportunidade incrível de explicar nossa sexualidade, de uma maneira explícita e gráfica. Que maneira melhor teríamos para explicar aos homens um assunto que eles não entendem muito bem?
ÉPOCA - A pornografia do futuro será dominada pelas mulheres?
Erika - Os diretores que fazem os pornôs comuns vão continuar expressando seu ponto de vista sobre a sexualidade, que eu aceito e respeito. Eu não estou tentando impor nenhum tipo de censura à pornografia. Só não quero que essa seja a única visão expressa. Eu me tornei mãe recentemente e eu gosto de pensar que, no futuro, na adolescência, minha filha receberá mensagens positivas sobre sua sexualidade, com o ponto de vista e os valores das mulheres representados.
Erika - Nós vivemos hoje em uma sociedade “pornoficada”. A pornografia tem uma presença enorme na internet, é vista nos meios de comunicação de massa, enfim, ela saiu do armário onde esteve escondida por um bom tempo. Nesse contexto, é muito importante que as mulheres tenham uma postura crítica em relação a esse fenômeno. Os valores que são apresentados na pornografia devem ser continuamente analisados e questionados. O que os homens veem e aprendem com os pornôs nos afeta profundamente em nossa vida diária como mulheres. Muitos preconceitos contra a sexualidade feminina vieram do pornô, graças à ausência ou escassez de outras influências. Eu acredito que, se as mulheres participarem dessa discussão, nós teremos uma oportunidade incrível de explicar nossa sexualidade, de uma maneira explícita e gráfica. Que maneira melhor teríamos para explicar aos homens um assunto que eles não entendem muito bem?
Erika - Os diretores que fazem os pornôs comuns vão continuar expressando seu ponto de vista sobre a sexualidade, que eu aceito e respeito. Eu não estou tentando impor nenhum tipo de censura à pornografia. Só não quero que essa seja a única visão expressa. Eu me tornei mãe recentemente e eu gosto de pensar que, no futuro, na adolescência, minha filha receberá mensagens positivas sobre sua sexualidade, com o ponto de vista e os valores das mulheres representados.
sábado, 4 de novembro de 2017
Carly Rae: "A pornografia me libertou."
É assim que a britânica Jade começa a explicar o porquê de ter decidido se dedicar ao universo pornô. Protagonista de um documentário dirigido por Rachel Tracy para a BBC, ela garante amar as oportunidades que esse trabalho lhe deu.
"Fazer parte desse documentário é importante porque eu queria mostrar algo que verdadeiramente reflita a indústria adulta. Geralmente a gente só vê na mídia o impacto negativo que ela pode ter na vida da pessoa ou das pessoas que entraram nisso pelas razões erradas", diz.
O filme chama-se Jade: Why I Chose Porn ("Jade: Por que eu escolhi o pornô", em tradução literal) - e ela deixa claro que quer usá-lo para desconstruir a imagem parcial que se tem desse universo. "Quando se pensa em pornografia, vêm à cabeça mulheres com pele alaranjada e toneladas de maquiagem. Eu não sou nada disso, não quero ser como outras estrelas pornô. Quero ser eu mesma, nada mais", afirma.
Jade ganha US$ 1,5 mil (cerca de R$ 4,5 mil) por dois dias de trabalho - fazer sexo com estranhos na frente de uma câmera. E usando seu nome artístico, Carly Rae, tem hoje mais de 700 mil seguidores no Twitter.
Mas de onde surgiu a ideia de entrar para esse mercado?A atriz pornô conta que o interesse pela pornografia surgiu quando começou a assistir a filmes na internet, com apenas 13 anos de idade. para ela, trata-se de um fascínio que começou na infância e persistiu. "Sempre pensei que um dia me dedicaria àquilo."
Jade começou a fazer dinheiro com pornografia chegou quando entrou para a faculdade. Ao se mudar para o condado de Warwickshire para cursar moda na Universidade Metropolitana de Manchester, ela decidiu vender fotos e filmes pornográficos para um site. "De repente, tinha US$ 150 (aproximadamente R$ 450) a mais na minha conta bancária", conta.
O site para o qual Jade contribuía de forma amadora não demorou em lhe fazer uma proposta para protagonizar um filme profissional. "Respondi que adoraria, me parecia incrível", conta.
Mas antes do sucesso, ainda no início da carreira, ela enfrentou problemas com uma hashtag que a ligava à universidade onde estudava.
Ao se formar, no verão de 2015, Jade decidiu que não se dedicaria à moda."Um dia pensei em ser designer e ter minha própria marca, ou trabalhar para um estilista importante", confidencia.
Mas, se quisesse um trabalho assim, teria que estagiar ou trabalhar de graça por quase um ano, argumenta. "Não posso me dar a esse luxo. Tenho que pagar o aluguel, as contas." Com a pornografia, ela calcula que ganha em média US$ 57 por hora de trabalho. Já filmou em Barcelona, na Espanha, e em Praga, na República Checa - os ganhos diminuem se são descontados os gastos com as viagens.
No entanto, Jade sustenta que não se transformou em atriz pornô apenas pelo dinheiro: segundo ela, o trabalho também melhorou sua situação emocional. "Queria fazer amigos, mas não conseguia. Passava os dias sozinha, chorando. Estava em depressão", conta. A carreira pornô mexeu com sua autoestima. "As pessoas começaram a dizer que eu era bonita, que queriam me conhecer. Tudo mudou para melhor", diz. "Comecei a acreditar em mim mesma como nunca antes."
Jade afirma também ter reconstruído sua relação com os homens. Ela garante que, na indústria pornô, é tratada com respeito por eles. "Mas na vida real, nem tanto." Sua primeira experiência traumática ocorreu aos 16 anos, quando foi assediada sexualmente num banheiro - ela conta que um homem tirou sua blusa e tocou seus seios. "Estava sozinha e me lembro perfeitamente como ele entrou e me olhou. Havia algo no rosto dele que me fez saber de imediato o que estava para acontecer. Quando ele terminou, me jogou no chão. Não me violou, não foi tão extremo, mas o que ele me fez foi algo que não saiu da minha cabeça por seis anos".
Jade deixa claro, porém, que o mundo pornô está longe de ser perfeito - há muita coisa que a incomoda e a afeta tanto emocionalmente quando fisicamente. Ela reclama, por exemplo, de ter de se relacionar com homens que tem pênis muito grandes ("meu corpo não foi feito para isso"). E também não gosta de fazer cenas vestida de colegial. "É um fetiche muito comum, mas quem veste essas roupas na vida real são crianças", observa.
Há reservas ainda em relação a roteiros de violência e submissão. "Rodar essas cenas não é um problema, eu gosto da atitude dominante do homem nos filmes. É divertido", reconhece. "Mas sempre haverá um idiota que vê o filme pornográfico, chega em casa e bate na namorada porque acredita que deve ser assim."
A atriz pornô ressalta ser difícil conciliar a carreira com a vida pessoal, mas está longe de se arrepender.
"A pornografia me libertou."
14 agosto 2016
BBC
#
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
Rocco Siffredi: A indústria mudou porque a internet fodeu tudo.
Você pode não conhecer o nome
dele, mas se assistiu a filmes pornô em algum ponto dos últimos 30 anos,
provavelmente está familiarizado com o pau de 27 centímetros de Rocco Siffred.
Apelidado de "o Garanhão Italiano", o ator de 52 anos já participou de mais de
1.500 filmes adultos e já transou com aproximadamente quatro vezes mais
mulheres, o que o coloca no mesmo patamar de gente como Ron Jeremy e John
Holmes.
Uma das cenas mais
angustiantes (NOTA: HEIM ???!!!) envolve uma mulher colocando os dedos de Siffred na boca, imitando
um boquete, mas enfiando tão fundo que lágrimas começam a sair de seus olhos.
Siffredi é fascinante, alegre e depravado ao mesmo temo. Falamos com o artista
depois da estreia do documentário no Festival de Cinema de Veneza.
Tradução: Marina Schnoor
VICE
#
Nascido Rocco Tano em Abruzos,
Itália, a mãe do astro pornô inicialmente queria que ele fosse padre. Mas o
coroinha tinha "o diabo no meio das pernas", como ele se refere ao próprio
pênis, e uma carreira no entretenimento adulto se tornou mais ou menos
inevitável quando ele começou a procurar por isso. Ele já transou com quatro
gerações do pornô, estrelando longas de 35mm com roteiro e enredos, e atuando
durante as eras do VHS, DVD e internet em produções XXX. Ainda assim, parece
que agora Siffredi cansou da putaria. Recentemente ele anunciou sua
aposentadoria, algo que já disse várias vezes no passado. Mas, como pai de dois
filhos, ainda é um mistério se sua lendária piroca vai mesmo ficar longe dos
holofotes.
Esses fatos biográficos, no
entanto, não interessavam aos cineastas franceses Thierry Demaiziere e Alban
Teurlai. Seu extraordinário documentário Rocco, que
estreou recentemente no Festival de Cinema de Veneza, é um retrato que tenta
desvendar o que se passa na mente do ator pornô. É um olhar introspectivo sobre
Siffredi, que se abre sobre a morte do irmão, sua reação sexual à morte da mãe,
seu relacionamento com a esposa e os dois filhos, e, claro, porque ele gosta
tanto de realizar atos carnais diante das câmeras. Mas o filme lida
principalmente com a culpa católica do ator. Tipo um Boogie Nights
dirigido por Martin Scorsese.
O filme começa do único jeito
possível: com um close do pênis de Siffredi. E a narrativa segue enquanto ele
escolhe as atrizes para um filme que está dirigindo, entrevistando cada uma
para saber se elas estão preparadas para os extremos sexuais que ele deseja
mostrar, desde closes de anal a jogos envolvendo asfixia erótica. Depois os
cineastas seguem Rocco até Budapeste, onde sua esposa, Rozsa Tano, mora, e
depois em viagens para a Itália e Los Angeles. No filme, os diretores oferecem
um vislumbre geral da indústria pornô, detalhando, por exemplo, os extremos que
alguns artistas estão dispostos a ir para ter sucesso.
VICE: Por que fazer esse
documentário agora?
Rocco Siffred: Já tinham me abordado algumas vezes para fazer um documentário, o primeiro foi um diretor polonês quando eu tinha 40 anos. Naquela idade, eu não achava que tinha muito a dizer, mesmo estando na indústria há 20 anos. Depois vieram cineastas italianos, mas achei que os italianos não entenderiam a sexualidade sem preconceitos. Aí vieram os franceses [os diretores Thierry Demaiziere e Alba Teurlai]. Você pode dizer que nasci na França, pelo menos artisticamente, porque foi lá que me tornei ator pornô.Me encontrei com os diretores e eles disseram que queriam fazer um filme sobre o pornô mas precisavam de um protagonista, e eles achavam que eu podia ser essa pessoa. Depois de algumas horas de conversa, eles mudaram de ideia e disseram que queriam focar a história em mim. E acho que atingi um ponto da vida onde tudo se tornou mais problemático, então eu queria fazer esse filme como um jeito de despejar tudo que está dentro de mim.
Você fala sobre as mortes da
sua mãe e do seu irmão no documentário. Foi difícil abordar esse assunto?
Rocco Siffred: Já tinham me abordado algumas vezes para fazer um documentário, o primeiro foi um diretor polonês quando eu tinha 40 anos. Naquela idade, eu não achava que tinha muito a dizer, mesmo estando na indústria há 20 anos. Depois vieram cineastas italianos, mas achei que os italianos não entenderiam a sexualidade sem preconceitos. Aí vieram os franceses [os diretores Thierry Demaiziere e Alba Teurlai]. Você pode dizer que nasci na França, pelo menos artisticamente, porque foi lá que me tornei ator pornô.Me encontrei com os diretores e eles disseram que queriam fazer um filme sobre o pornô mas precisavam de um protagonista, e eles achavam que eu podia ser essa pessoa. Depois de algumas horas de conversa, eles mudaram de ideia e disseram que queriam focar a história em mim. E acho que atingi um ponto da vida onde tudo se tornou mais problemático, então eu queria fazer esse filme como um jeito de despejar tudo que está dentro de mim.
Sabe, passei por muito
sofrimento na minha vida. Quando você tem seis anos, perde seu irmão e vê sua
mãe enlouquecer por causa da dor, é impossível continuar normal. É impossível
esquecer essa dor. Do nada, você só quer fazer algo que torne a vida um pouco
menos difícil. Por causa dessas tragédias, eu estava pronto para fazer qualquer
coisa.
Mas por que pornô? Eu já era sexualmente ativo
aos 11 anos, e lembro que todos os outros garotos tinham zero experiência com
sexo, então eu sabia que havia algo especial. Mas isso não foi o principal. O
principal é que eu estava sempre tentado dar algo a minha mãe que a ajudasse
com a dor que ela estava passando por causa da morte do meu irmão. Também lembro de achar uma
revista quando eu tinha 13 com fotos de um cara chamado Supersex, que era um
ator pornô famoso nos anos 70. Haviam fotos dele transando com uma morena, aí
você virava a página e tinha fotos dele transando com uma loira, você virava a página
e ele estava transando com uma ruiva, aí você virava a página e ele estava
transando com as três. Eu vi aquilo e disse que queria entrar para aquele
negócio. Liguei pro meu irmão mais velho, que morava em Paris, e contei isso
para ele. Ele disse: "você é louco". Aos 16, liguei de novo e ele disse "você
não desistiu? Você é completamente louco!" Aí liguei de novo aos 20 e ele me
disse que se fosse até um clube de swing, eu encontraria alguém do pornô para
me ajudar nisso. E funcionou. As pessoas me viram transando na frente de todo
mundo e daquele dia em diante, minha vida mudou. Era o paraíso.
Por que você chama seu pênis
de "o diabo no meio das minhas pernas"? Porque o diabo possui seu
corpo. Não é você que o possui. Por muitos anos, usei o sexo para minha
conveniência. Quando o sexo começa a te usar, isso significa que você está
viciado, e isso é o diabo. É a mesma coisa com drogas e álcool — tudo isso é o
diabo. Quando ele está te usando, faz você fazer tudo que ele quer. Ele te faz
fazer coisas que você realmente não gosta.
Essa não é a primeira vez que
você fala em se aposentar. O que aconteceu aos 40, quando você disse que só
trabalharia atrás das câmeras como diretor? Tentei me aposentar pelos meus
filhos. Eu queria parar de atuar diante das câmeras na época em que eles eram
adolescentes e estavam prontos para começar suas vidas sexuais. Tentei fazer
coisas do outro lado das câmeras para não prejudicá-los. Por outro lado, isso
foi um erro. Primeiro, prejudiquei a mim mesmo parando. Segundo, comecei a
procurar prostitutas duas ou três vezes por dia. Três vezes por dia:
prostitutas, prostitutas, prostitutas... porque eu estava acostumado a fazer
muito sexo.
Isso afetou seu casamento? Claro, mas estou com uma
mulher muito inteligente que entende minha situação. Ela me disse que eu
precisava voltar a atuar. Se é disso que você sente falta, e está transando com
prostitutas para substituir [a atuação], então qual o objetivo de se aposentar?
Foi estranho para você pagar
por sexo em vez de ser pago para transar? Sim, e às vezes acontecia uma
coisa engraçada. As [trabalhadoras sexuais] viam meu pau e diziam "uau, que
enorme, por que você não vira ator pornô?" Sério, isso aconteceu várias vezes.
E eu respondia "é, vou pensar nisso".
Como é estar sempre falando
sobre o tamanho do seu pau? "Quantos centímetros tem o seu
pau?" é uma pergunta que respondo com frequência, então estou acostumado. Sei
que meu trabalho é o meu pênis. Sei que quando trabalho, são duas pessoas
trabalhando: eu e o meu pau. Nós dois somos famosos. Na minha cabeça, isso
sempre esteve claro. Não estou desapontado. Não me sinto um objeto. Trabalho
com meu pau e nunca tive problemas com isso. Nunca.
Como você acha que o pornô
mudou durante sua carreira? Passei por quatro gerações
diferentes, e há uma grande diferença entre a época em que comecei e hoje.
Antes você tinha duas cenas por semana, muitos diálogos, filmávamos em 35mm,
etc. Levava mais tempo para mudar a posição da câmera, as luzes e tudo mais,
então o sexo era curto. Havia muito diálogo, muita comédia e muita estrutura.
Hoje é apenas sexo, muito sexo e zero diálogo. Não tem mais romance. São apenas
tomadas diferentes do corpo feminino: tomadas dos peitos, tomadas apenas dos
pés, tomadas do anal. Ultimamente, a maioria das garotas faz tripla penetração
anal, e às vezes você nem toca nela; são só três paus enfiados juntos. Isso é
completamente diferente do que costumava ser o pornô.
E isso é melhor ou pior? É muito pior. Eu, alguém que transa com uma mulher com o coração, preciso de conexão, preciso usar minhas mãos, preciso do cheio, preciso do poder. Preciso usar tudo isso. Hoje, eles não têm tempo para nada disso. Eles não dão a mínima. Eles só precisam dos corpos. Corpos, corpos, corpos. Gente nova. Paus novos. Não gosto de sexo sem conexão. Não temos mais dinheiro para fazer [narrativas longas] como antigamente. A indústria mudou porque a internet fodeu tudo. Ninguém tem dinheiro para fazer grandes filmes com enredo. Gosto da internet porque isso ainda dá a pessoas que não tem dinheiro, que vivem em países onde as garotas são invisíveis, a oportunidade de sonhar em ver uma garota bonita fazendo coisas incríveis. Por outro lado, infelizmente, isso destruiu completamente a indústria. Tem sexo grátis por todo lado, então por que pagar?
E isso é melhor ou pior? É muito pior. Eu, alguém que transa com uma mulher com o coração, preciso de conexão, preciso usar minhas mãos, preciso do cheio, preciso do poder. Preciso usar tudo isso. Hoje, eles não têm tempo para nada disso. Eles não dão a mínima. Eles só precisam dos corpos. Corpos, corpos, corpos. Gente nova. Paus novos. Não gosto de sexo sem conexão. Não temos mais dinheiro para fazer [narrativas longas] como antigamente. A indústria mudou porque a internet fodeu tudo. Ninguém tem dinheiro para fazer grandes filmes com enredo. Gosto da internet porque isso ainda dá a pessoas que não tem dinheiro, que vivem em países onde as garotas são invisíveis, a oportunidade de sonhar em ver uma garota bonita fazendo coisas incríveis. Por outro lado, infelizmente, isso destruiu completamente a indústria. Tem sexo grátis por todo lado, então por que pagar?
Você conseguiu fazer Kelly
Stafford sair da aposentadoria para seu último filme. Por que isso era
importante? Kelly é a maior atriz pornô
para mim. Ela é A atriz pornô. De certa maneira, ela é como seu eu fosse
mulher.
Ela é mais poderosa que você
por ser é mulher? Cem por cento. Sem dúvida. Ela
é muito poderosa. Sinto atração por pessoas que são especiais. Pessoas
especiais sempre me atraíram. Quando alguém diz "essa pessoa é louca", quer
dizer que ela deve ser inacreditável. Não gosto de gente normal. Eles sempre me
entediam.
Você acha que algum dia vai realmente se aposentar?
Foi o que eu disse depois desse filme, nunca mais vou responder essa pergunta. Quer dizer, nunca vou dizer que vou me aposentar ou que vou voltar. No momento estou fora, mas não posso dizer que não vou voltar.
Você acha que algum dia vai realmente se aposentar?
Foi o que eu disse depois desse filme, nunca mais vou responder essa pergunta. Quer dizer, nunca vou dizer que vou me aposentar ou que vou voltar. No momento estou fora, mas não posso dizer que não vou voltar.
Para mais informações sobre o
filme Rocco, visite o site do projeto.
por Kaleem Aftab - no Twitter.
VICE
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sexta-feira, 23 de setembro de 2016
COM ESSE BATOM NÃO DÁ
Conhecem os buracos da rua todos, cada um deles, dançando com o carro
para evitá-los à medida que avançam. Passam pela mesma rua vezes e mais
vezes por noite, até se decidir. E é assim, à distância, que você já
reconhece um acostumado ao bairro, cliente conhecedor da dinâmica.
Gritam "delícia" alguns, meio mecanicamente (quem grita assim grita o
mesmo pra todas, nada significa), outros ficam só encarando, a maioria
passa sem reação, como se a rua fosse prateleira, como se nós objetos:
não há necessidade alguma de, pelo olhar, indicar o que ele achou ou
deixou de achar, quanto menos dizer o que quer que seja. E lá vou eu
tentando atiçar suas curiosidades, suas vontades, um beijo lascivo aqui,
um aceno ali, um "oi", "vem cá". E é isso.
Pois pararam três pra saber o preço, me conhecer melhor, antes do primeiro cliente da noite. Um veio perguntando se eu metia forte, arrombava o edi dele, tadinha de mim... condição zero de garantir ereção, ainda mais quando o cara não coopera (me tratar como gente é fundamental, e não como um pinto sobre pernas). Nada feito. Ele sentiu que não era a minha e eu não desmenti. No sexo prefiro sempre que nada dependa da minha ereção, ou pode ser que não role nada. Os outros foram bem xis, só perguntando quanto, interagindo pouco e "vou dar uma voltinha, qualquer coisa eu volto". Os caras aprenderem a nos tratar como gente e não coisa, qual a dificuldade? Incrível o quanto conseguem abalar sua autoestima mesmo quando você está super bem.
Mas veio o bendito primeiro e acabou que único. Parou a motoca, conversou comigo em cima dela mesmo, eu sedutora, voz sexy, brincando com a mão na sua virilha enquanto jogava o velho blablablá, ele se animando todo. "Quanto é o oral?" Faço vinte pra você, só pra você. "Hmmm... mas onde?" Ah, qualquer lugar... mas se você for tímido tem o estacionamento lá embaixo, mais escurinho, ou o matel. "Vai o estacionamento então, mas e esse batom? A esposa me mata se eu chegar em casa com a cueca suja!" Se tem coisa que me irrita é isso. O cara tem esposa em casa, esperando, a travesti servindo só pra uma rapidinha paga com trocados. Mas tirei o batom mesmo assim, na mão, ele vendo, e lá fomos nós.
Pois pararam três pra saber o preço, me conhecer melhor, antes do primeiro cliente da noite. Um veio perguntando se eu metia forte, arrombava o edi dele, tadinha de mim... condição zero de garantir ereção, ainda mais quando o cara não coopera (me tratar como gente é fundamental, e não como um pinto sobre pernas). Nada feito. Ele sentiu que não era a minha e eu não desmenti. No sexo prefiro sempre que nada dependa da minha ereção, ou pode ser que não role nada. Os outros foram bem xis, só perguntando quanto, interagindo pouco e "vou dar uma voltinha, qualquer coisa eu volto". Os caras aprenderem a nos tratar como gente e não coisa, qual a dificuldade? Incrível o quanto conseguem abalar sua autoestima mesmo quando você está super bem.
Mas veio o bendito primeiro e acabou que único. Parou a motoca, conversou comigo em cima dela mesmo, eu sedutora, voz sexy, brincando com a mão na sua virilha enquanto jogava o velho blablablá, ele se animando todo. "Quanto é o oral?" Faço vinte pra você, só pra você. "Hmmm... mas onde?" Ah, qualquer lugar... mas se você for tímido tem o estacionamento lá embaixo, mais escurinho, ou o matel. "Vai o estacionamento então, mas e esse batom? A esposa me mata se eu chegar em casa com a cueca suja!" Se tem coisa que me irrita é isso. O cara tem esposa em casa, esperando, a travesti servindo só pra uma rapidinha paga com trocados. Mas tirei o batom mesmo assim, na mão, ele vendo, e lá fomos nós.
Foi de moto na frente, sozinho, mas pagou adiantado pra me convencer que
era sério. Eu fui a pé, duas quadras. Quando cheguei, já estava lá. Me
explicou que tem uma com quem sempre sai, mulher, não travesti, só que
ela não tava na rua, aí ele aproveitou pra uma variada. O papo tava bom,
mas tempo é dinheiro e lá vai o zíper, jeans abaixado só até a metade
da perna, pra não sujar no chão de terra e camisinha usada. Necão
bonito, gorducho, dava até gosto imaginar na boca, mas não, taca-lhe
guanto desde o começo, com a boca mesmo, únca forma de pôr quando ainda
está murcho. Começa o oral, ele em pé, eu agachada no salto, cãimbras e
mais cãimbras, o pau dele no máximo meia-bomba, o meu sem dar sinal de
vida.
Uma hora endurece,
ele se anima, pergunta quanto a mais pro completo, "mais dez", lá vem
dez a mais pro meu bolso. Fico de pé, ufa, gelzinho na neca e no edi,
ele se encaixando por trás, me inclinando sobre a moto, começando a
forçar a portinha tentando entrar. Nada. Tou meio machucada, a verdade é
essa, sem conseguir resolver a questão (ainda escrevo mais a respeito).
A coisa é que, de tanto insistir, uma hora a ereção já não tão vigorosa
assim foi por terra e não houve cristo que a reerguesse. Ele me pede
então pra tirar o guanto e eu bater uma pra ele. Fico meio assim, era a
última camisinha que eu tinha (esqueci a bolsa com uma amiga), avisei
que não teria mais como penetrar depois, ele ok, só queria gozar com uma
punhetinha minha.
Mãos à
obra, de cara ele solta o famigerado "faz o que quiser de mim, me toca
onde você quiser". Quem me lê, já sabe o que significa, onde ele me quer
tocando. Sim, edi, cu, justo onde eu vou chegando ali por baixo, pelo
períneo, "faz o que você quiser", meia-bomba virando pedra, "sou todo
seu", até que ele goza. Não foi tão rápido assim, no entanto, eu tendo
que trocar de mão por cansaço, ele assumindo o trabalho no final, eu só
tendo que massagear seu cuzinho. Ele chegou ainda a pedir que eu
enfiasse o dedo, mas tá boa que vou pôr meu dedinho lá: contente-se com
as beiradas, querido. E vê se paga um drive-in a próxima, porque transar
em pé ninguém merece.
por Amara Moira
AQUI
#
por Amara Moira
AQUI
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terça-feira, 17 de maio de 2016
O XIBIU DE MARIA
Eu era tão pequenininho! A fimose bicuda tornava dolorosa qualquer manipulação, quanto mais a ensaiada
punheta que eu tentara imitar, ao ver os meninos maiores gozar com gala e tudo
ao final do banho, nus nas águas morenas do Rio Vaza Barris, em Itaporanga.
Pratiquei, pratiquei, até que alcancei a instigante
coceirinha da gozada infantil, o que me habilitou a contar aventuras mentirosas
á turma dos meninos grandes que já sabiam gozar.
Introduzir a pinta num xibiu seria o próximo passo. Pois bem, um dia cheguei aos limites do quintal para meter no complacente buraco macio de uma bananeira e quando olhei para a cerca vizinha lá estava Maria, a empregada da família ao lado, arreganhado o xibiu numa fresta da cerca e a me chamar aflita.
Um xibiu tem nuances de cor que vão do roxo molhado ao branco fúnebre. Lá dentro, cada dobra pulsa como um coração do lado de fora. A tabaca aberta era-me uma coisa nunca vista, curiosa e instigante. Exalava aquele cheiro de rêgo de cozinha, ancestral e embriagador, um que de pimenta em ovas de siri, algo que me assaltava as narinas e se resolvia lá ermbaixo no pinto entumescido. O tônus do sexo que ainda hoje eu tento reavivar nas carnes que cheiro e que se tornou a chave da minha lubricidade.
Um xibiu arreganhado na cerca, tão poderoso que me engoliu todo e me mordeu lá dentro, me arregaçou o prepúcio, ardeu o quando quis, tirou e botou inúmeras vezes até que Maria enfiou em si os próprios dedos e enlouqueceu aos gritos e convulsões.
Essa Maria se debatendo ao gozar no quintal da vizinha é um dos mistérios que me intrigam, desde a infância.
Introduzir a pinta num xibiu seria o próximo passo. Pois bem, um dia cheguei aos limites do quintal para meter no complacente buraco macio de uma bananeira e quando olhei para a cerca vizinha lá estava Maria, a empregada da família ao lado, arreganhado o xibiu numa fresta da cerca e a me chamar aflita.
Um xibiu tem nuances de cor que vão do roxo molhado ao branco fúnebre. Lá dentro, cada dobra pulsa como um coração do lado de fora. A tabaca aberta era-me uma coisa nunca vista, curiosa e instigante. Exalava aquele cheiro de rêgo de cozinha, ancestral e embriagador, um que de pimenta em ovas de siri, algo que me assaltava as narinas e se resolvia lá ermbaixo no pinto entumescido. O tônus do sexo que ainda hoje eu tento reavivar nas carnes que cheiro e que se tornou a chave da minha lubricidade.
Um xibiu arreganhado na cerca, tão poderoso que me engoliu todo e me mordeu lá dentro, me arregaçou o prepúcio, ardeu o quando quis, tirou e botou inúmeras vezes até que Maria enfiou em si os próprios dedos e enlouqueceu aos gritos e convulsões.
Essa Maria se debatendo ao gozar no quintal da vizinha é um dos mistérios que me intrigam, desde a infância.
Amaral Cavalcante
quarta-feira, 11 de março de 2015
Meia hora ...
"Meia hora de pica no seu cu". "Oxe, e eu pensando que você ia me desejar uma coisa ruim". O diálogo, meigo, foi sussurrado em tom de brincadeira por duas amigas no final de um show na Casa Rua da Cultura. Não as conhecia, nunca mais as vi, mas isso nunca me saiu da cabeça ...
Achei EXTREMAMENTE excitante.
Achei EXTREMAMENTE excitante.
pornofagia
Clóvis Basílio dos Santos, hoje com 60 anos, não guarda boas
lembranças de sua infância na Baixada Santista. “Duas ou três vezes por semana,
o pau comia pra cima de mim”, disse quando nos encontramos numa noite chuvosa
do começo de fevereiro, no interior de São Paulo. Aos 17 anos ele fugiu das
surras do pai e foi morar com o avô. Ficou lá por três meses, até juntar algum
dinheiro.
Técnico em metalurgia pelo Senai, seguir uma faculdade não
estava em seu horizonte, tampouco servir o Exército – “Um amigo da família
conseguiu minha dispensa, coisa rara na época”. Em 1973, arranjou um emprego
numa loja que consertava escapamentos. O serviço ficava perto do cais de
Santos, na rua Brás Cubas. Na carteira, o rapaz ganhava um salário mínimo.
Alguns clientes lhe davam caixinha, o que aumentava o orçamento. Em outras
ocasiões, ele fazia o que chama de “pequenos trambiques”: “Chegava algum bacana
com algum problema fácil de resolver, e eu dizia: ‘O silencioso tá fodido.’ Aí
eu guardava o silencioso, e depois vendia a um preço mais barato para um
cliente mais humilde. E nisso eu também faturava algum.”
A loja de escapamentos era só um dentre os muitos outros
estabelecimentos da rua, que incluíam prostíbulos. “A zona do cais de Santos é
a maior zona do país”, comentou, com certo orgulho e talvez alguma hipérbole.
No final do expediente, quase toda noite ele perambulava pelo bairro. Na
primeira vez que tentou transar com uma prostituta, ela recusou. E mesmo assim
lhe cobrou uma taxa. Na segunda vez aconteceu algo parecido: a prostituta
chegou a masturbá-lo, mas não passou daí. Ele pagou de novo. “Eu era muito
inocente”, ele diz. Com 18 anos e uma graninha no bolso, quis conhecer as casas
de tolerância. Então foi à pensão Brás Cubas. Pagou pelo quarto e deu o
dinheiro para a prostituta antecipadamente. Aquela noite conseguiu, enfim,
transar. Logo depois começou a namorar a moça.
Quando conversamos, Basílio dos Santos, que é negro e tem as
feições arredondadas e simétricas, a ponto de parecer um retrato falado, vestia
regata azul e bermuda verde fosforescente. O único indício de sua idade eram
escassos fios brancos que tentavam nascer na cabeça raspada, visíveis apenas de
perto.
Ele falava animado, pondo e tirando os óculos escuros de
aviador. Descreveu a transa com intensidade, alguma variedade semântica e muita
repetição – “Eu era putão. Putão, putão, putão, putão, putão” –, como se
quisesse atingir o grau zero da obscenidade. A ênfase que dava a suas
digressões sexuais tornava sua história pessoal opaca e cronologicamente
confusa. Basílio dos Santos passou um bom tempo falando da “prostituta enorme”
que foi sua namorada por seis meses.
Só muito mais tarde – após discorrer sobre a carreira de
metalúrgico e fresador ferramenteiro em São Paulo, sobre as orgias que
organizava com amigos no fim dos anos 70 e sobre as noites que passava
assistindo a pornochanchadas depois do expediente – ele esclareceu em que
momento foi “batizado” com o apelido pelo qual é conhecido. Em 1990, quando
atuava em seu primeiro filme pornográfico, no Rio de Janeiro, o produtor que o
havia contratado não estava satisfeito com o nome Clóvis, que considerava muito
banal. Ao ver a genitália do ator – a razão da resistência das prostitutas do
cais de Santos –, decretou: “A partir de agora você se chama Kid Bengala.”
Era uma manhã nublada de fevereiro, e o carro serpenteava a
estradinha bucólica em algum trecho impreciso nas cercanias de Carapicuíba, em
São Paulo. Árvores e mansões pontuavam o trajeto. “Quando eu crescer quero
morar numa casa dessas”, disse Cindy, e todos riram. No banco de trás, além
dela, acomodavam-se os atores Lolah e Loupan, e Carla Lira, a maquiadora –
todos contratados pela produtora Brasileirinhas, mencionados aqui por seus
nomes artísticos. O destino era uma casa num condomínio fechado da região, onde
seria gravado um filme com temática carnavalesca. No trajeto, Cindy contou que
naquela tarde faria sua primeira cena de sexo anal. Decidira encará-la com
Lolah e Loupan porque tinha confiança no casal. “Me sinto segura com eles,
temos amizade”, resumiu, sorridente.
Ao volante, o diretor Gil Bendazon, um paulistano da Mooca,
ruivo, de olhos claros e barba quase translúcida, explicava como certa vez
levou bolo de um fã. A Brasileirinhas havia feito uma promoção: sorteariam um
cliente para atuar numa filmagem. Avisaram o vencedor, que, animado ao
telefone, combinou hora e lugar para o encontro. Bendazon e outros funcionários
da produtora foram buscá-lo no metrô. O rapaz jamais apareceu.
Os fãs são chamados de “punheteiros”. Ao longo das semanas
em que nos encontramos, ouvi o termo muitas vezes: de Bendazon (nome
artístico), de Sérgio, o fotógrafo da equipe, de Clayton Nunes, o CEO da
Brasileirinhas. Longe de ser depreciativo, o apelido carrega certo afeto.
“Punheteiros” são os clientes fiéis, aqueles que sustentam a empresa.
Representam o oposto dos chamados “sazonais”, aqueles que assistem a filmes pornôs
para ver celebridades menores, reanimar o casamento ou satisfazer a
curiosidade. Enquanto subíamos a estradinha rumo à casa, Bendazon contava o
caso do fã sorteado com ar de desolação. A produtora quisera presentear um de
seus fiéis e não havia dado certo.
Quando chegamos à mansão, discreta e um pouco decadente,
havia um clima de confraternização na cozinha. Dênis Nunes, administrador do
espaço e irmão de Clayton Nunes, e Marcelo Ferreira, seu auxiliar,
cumprimentaram todos com abraços e beijos. Haviam preparado um café da manhã
farto: vários pacotes de pão de forma, duas térmicas de café, leite, suco,
fatias de presunto e queijo. Após a refeição, todos se dispersaram pelos
cômodos, preparando-se para a filmagem.
As casas que funcionam como locação de filmes pornográficos
não duram muito – dois ou três anos, se tanto. Segundo Bendazon, passado um
tempo, vizinhos reclamam, ou alguns curiosos dão um jeito de espiar, gerando
inibição entre os atores. Na casa atual, alugada três semanas antes da
filmagem, eles construíram uma extensão no muro para evitar que os moradores da
região pudessem bisbilhotar. O local passava por uma reforma extensa e
necessária: o gesso das paredes era frágil e decadente; a tinta estava gasta.
Três anos antes, a produtora alugara uma casa isolada na Praia Grande, no
litoral paulista. A mansão de Carapicuíba era o novo set.
O lugar não serve apenas como locação. A cada semana a
produtora envia uma atriz para morar na casa temporariamente. Os assinantes do
site da Brasileirinhas têm acesso a todos os cômodos através de sete canais,
supostamente 24 horas por dia. Depois de um mês, uma eleição entre os
assinantes determina qual atriz deve voltar ao ambiente. O programa é um
pastiche dos reality shows. A própria casa parece uma versão um pouco mais
sombria, mais caída, e também mais autêntica das que são vistas em programas
como o Big Brother Brasil. O apresentador da Casa das Brasileirinhas é Kid
Bengala – “O nosso Pedro Bilau”, conforme diz às gargalhadas Clayton Nunes, o
CEO, orgulhoso do trocadilho.
Como em outros programas do tipo, o real não é exatamente
real. Existe, por exemplo, um cronograma para as atrizes. Marcelo Ferreira, o
Black, é o encarregado de monitorar os horários. Existem tempos mínimos,
geralmente entre quarenta minutos e uma hora, para cada atividade obrigatória:
piscina, academia, banho. Em certo momento a atriz deve se livrar da roupa. Os
assinantes podem conversar com as moradoras temporárias pela internet em
horários predeterminados. Ferreira acompanha os chats, bloqueando mensagens
ofensivas e pedidos de contato pessoal. “Muitas atrizes trabalham também na
noite”, ele me disse, “e acusações de agenciamento de prostituição são
complicadas.”
Apesar do apelido, Black é um moreno claro, magro e de
cavanhaque ralinho. Além de controlar os cronogramas do reality pornô, ele
ajuda nas filmagens, nos ensaios fotográficos, na iluminação. “Pego gel,
camisinha, faço de tudo.” Também organiza refeições, supervisiona a reforma da
casa e cuida dos computadores. Frequentemente se ouve um grito, dos fundos ou
de dentro da casa: “Ô Black!” Foi um dos poucos a não se importar com a
publicação de seu nome verdadeiro na reportagem: “Tranquilo, bota aí.”
Nascido e criado em Santos, Ferreira montou móveis para as
Casas Bahia por dez anos, na condição de terceirizado. Após a fusão da empresa
com o Grupo Pão de Açúcar, deixou o emprego. “Ficou muito ruim para os
funcionários, o salário caiu demais.” Começou então a fazer bicos. Uma de suas
ocupações temporárias foi como porteiro de uma casa de swing, onde conheceu
pessoas do meio pornográfico. “Caí um pouco de paraquedas aqui, mas aprendo
muito rápido”, disse, enquanto fumava um cigarro no fundo da casa. No futuro,
pretende se matricular num curso de foto e filmagem, não necessariamente no
ramo pornográfico. “Quero fazer casamento, funeral, o que for”, comentou,
rindo.
Lolah e Cindy estavam sendo maquiadas num dos cômodos do
andar de cima. No chão do quarto jaziam colares, pulseiras e outras bijuterias.
As atrizes vestiam fantasias minúsculas de Carnaval que continham inúmeras
pedrinhas brilhantes, e pareciam mais bronzeadas do que horas antes. Cindy
experimentava as roupas sem embaraço. Lolah, mais quieta, não se mostrava
desconfortável com minhas perguntas, às quais respondia com uma reserva gentil.
Morena, de grandes olhos pretos, ela disse que só contracena com o seu
namorado, Loupan. Quando perguntei sua idade, respondeu: “Tô com 23, bem
velhinha já.” Ela ficaria na mansão aquela semana inteira, participando da Casa
das Brasileirinhas. Não parecia muito empolgada.
Mineira de Santos Dumont, Cindy contava que assistia a
filmes pornôs aos 12 ou 13 anos. “Eu adorava. Sempre soube que me envolveria
com esse tipo de coisa”, comentou, mostrando animação. Não soava falsa, ainda
que atrizes pornográficas sejam encorajadas a propagar mitos desse tipo. É
difícil, nesse meio, diferenciar o que é genuíno do que é inventado. Com o
tempo e as distorções da memória, é provável que meias verdades ou fantasias
ganhem aura de verdade plena.
Cindy enveredou para a área protagonizando filmes envolvendo
fetiches em produtoras menores. Logo se destacou e foi chamada para integrar a
equipe da Brasileirinhas. Um dos fetiches mais bizarros que encenou no começo
da carreira consistia em chutar os testículos do parceiro. Kid Bengala certa
vez a desafiou a reproduzir a cena com ele. Cindy gargalhava ao rememorar a
história (“Ele aguentou o tranco”), enquanto a maquiadora Carla Lira pedia num
tom de voz impaciente que ficasse parada. “Essa fala pelos cotovelos”, contou.
Carla, uma paraibana simpática de 41 anos, conserva um
resquício de sotaque, a despeito de morar em São Paulo há 25 anos. Ela começou
a prestar seus serviços para o meio pornô em 2004, ano que muitos consideram
como o marco inicial do crescimento da indústria. Por muito tempo se importavam
filmes do exterior, e pouco se produzia aqui. No fim dos anos 90, produtoras
nacionais começaram a crescer. A Brasileirinhas foi fundada em 1996, mas seu
auge, e o auge do pornô nacional, segundo todos os entrevistados, foi entre
2004 e 2009. A partir de 2010, afetado pela pirataria na internet e pelo
aumento da popularidade de sites de compartilhamento de vídeos pornôs – como
YouPorn, XVideos e Pornhub, que disponibilizam conteúdo de graça –, o mercado nacional
começou a enfrentar sérios problemas.
Testemunha dos reveses na indústria, Carla encara seu
trabalho com estoicismo. Apesar de a demanda ter caído, ela diz que cobra o
mesmo cachê – entre 200 e 300 reais a sessão – e ainda tem certa estabilidade financeira.
Não há sinal de nostalgia em sua fala quando relembra os tempos gloriosos do
pornô. “As produtoras são todas meio parecidas, tinha uma época em que eu saía
de uma e já ia para outra, e nem sabia o nome de onde eu estava, de tão igual
que era tudo.”
Os anos de carreira lhe proporcionam certo regard lointain,
uma vantagem de espectadora externa. Observou, por exemplo, que a decadência do
gênero tem gerado uma espécie de autofagia. Por questões de sobrevivência e
ego, o ator quer produzir, dirigir, atuar e assim por diante, num círculo que
nem sempre fecha redondo. Segundo ela, há hoje menos atenção a detalhes,
opera-se mais na base do improviso.
Carla sente saudade das putas. “Puta de verdade”, assim como
“punheteiro”, é elogio, e não xingamento – as inversões linguísticas são
recorrentes no meio. As “putas” são as atrizes profissionais, que chegam
prontas para o trabalho, não hesitam, fazem tudo que se exige de uma cena. “As
menininhas”, Carla disse, “ficam perguntando: ‘Mas será que eu tenho que fazer
isso, será que eu tenho que fazer aquilo?’ Elas dão palpite na maquiagem, ficam
com frescura para encarar o trabalho. Essas eu chamo de ‘putas de quatro
paredes’. É outra coisa, viu, não são profissionais. As putas de verdade para
mim são as divas. Mônica Mattos, Ju Pantera, Bruna Ferraz.”
Cindy, que ouvia, atalhou em tom sério, já maquiada: “As
profissionais se poupam, não vão para a balada na noite anterior.” Não havia
dúvida: ela se considerava um exemplo da categoria.
A sede da Brasileirinhas fica num edifício acinzentado, de
fachada sóbria, ao lado da Praça da República, no Centro em São Paulo. A
produtora ocupa apenas um dos andares. O escritório é simples, com duas salas
interligadas por um cômodo maior, onde funcionários silenciosos sentam-se lado
a lado. Os empregados estão conectados a sites pornográficos, mas agem como se
estivessem abrindo planilhas de Excel ou PowerPoint, morosos e distraídos, o
que gera no visitante um efeito desconcertante.
O CEO da firma, Clayton Nunes, iniciou sua trajetória
profissional na área de informática. Nascido e criado no bairro do Tatuapé, na
Zona Leste paulistana, se uniu aos 20 e poucos anos a alguns amigos para lançar
uma revista de tecnologia. “Começou assim, coisa de nerd mesmo”, disse ele em
sua sala. Simpático, dado a gestos efusivos, respondeu bem alto, quase
gritando, quando lhe perguntei em que se formara: “Fiz administração...
administração na São Luís!” – e gargalhou, como se caçoasse da discrepância
entre sua ocupação e o curso.
Empolgados com as possibilidades da tecnologia audiovisual,
e com a intenção de reportar inovações do meio na revista que almejavam criar,
Nunes e seus sócios alugavam fitas em VHS para passar o conteúdo para DVD. Os
filmes eram em grande parte pornôs. “No fim do expediente, funcionários vinham
pedir cópias emprestadas, sempre discretamente. Percebi que havia uma demanda
imensa por DVDs pornôs, talvez até por ser uma mídia mais maneira que o VHS,
aquele trambolho que ninguém quer ser visto carregando.”
Nunes teve uma outra ideia. Começou a contatar várias
produtoras de pornô, dizendo que lançaria uma “revista de sacanagem”: “Pedia
dez minutos de conteúdo, e em troca dava duas páginas de anúncio. Fizemos uma
compilação com as melhores cenas de vários filmes. Tinha de tudo: fetiche de
pé, dupla penetração, pornô mais tradicional. Na primeira edição, vendemos 60
mil cópias com o DVD encartado.”
Nunes queria vender mais compilações em bancas de jornal.
Começou a juntar capital e a comprar conteúdo. A Brasileirinhas era, então,
comandada por Luis Alvarenga, um empresário que sempre resistia às investidas
de Nunes. “A Brasileirinhas chegou a vender DVD por 60, 70 reais. Eu queria
massificar, vender mais barato, a 10, 15 reais na banca, pegar um público com
menor poder aquisitivo”, disse ele. Alvarenga, que Nunes define como um
pornógrafo da velha escola – “tinha cadeirinha de diretor, cinegrafista e tudo
mais” –, estava satisfeito com o modelo de negócios, focado em locadoras.
A expansão da rede de locadoras Blockbuster criou uma
pressão mercadológica que obrigou a produtora a repensar seu modelo de
distribuição. A rede americana – que viria a enfrentar suas próprias
dificuldades, em decorrência do crescimento do mercado de streaming digital –
entrara no país em 1995. Fundada no Texas, em 1985, a empresa sempre projetara
uma imagem associada a valores familiares, e por isso não trabalhava com vídeos
pornôs. Sua presença no Brasil forçou a quebra de várias locadoras locais, até
então importantes meios de distribuição para as produtoras pornográficas
nacionais. Em 2006, cinco anos após suas primeiras tentativas, Nunes conseguiu
licença para a distribuição de filmes das Brasileirinhas em bancas de jornal.
Em 2007, ele entrou como sócio da produtora e foi gradativamente assumindo o comando
total da empresa. Em 2010, Alvarenga se desligou da produtora.
O mercado estava aquecido em 2007. Os cachês eram altos,
lançavam-se DVDs, as produtoras investiam. Cerca de 100 filmes eram produzidos
ao ano, e a maior parte da receita provinha da venda de DVDs. Aumentava a
reputação da Brasileirinhas como uma das produtoras mais renomadas do mundo,
competindo numa área que era historicamente dominada por empresas americanas e
europeias.
Mesmo em posição economicamente favorável, Nunes já sentia
que o tempo das vacas gordas iria para o brejo. Lembrou-se de uma conversa que
tivera com o sócio, assim que entrara na produtora: “Não são só as locadoras
que vão sofrer. O DVD em banca de jornal também vai acabar, você vai ver”,
dissera ao outro.
Clayton Nunes cedo percebeu que precisaria cortar custos. A
pirataria na internet estava a todo vapor: mal era lançado, um filme já estava
disponível de graça. No Brasil, o acesso à internet mais rápida ainda estava se
consolidando, e foi só a partir de 2010 que o mercado pornô nacional começou a
sentir os efeitos mais nefastos da decadência que já ia avançada nos Estados
Unidos. O mercado pornô nacional mal se erguia e já começava a declinar.
Nunes passou a investir num site oficial da produtora,
convertendo todo o acervo para o formato digital. Com o tempo operou outras
mudanças. Além de estabelecer uma equipe regular para as filmagens, contratou
como diretor principal Gil Bendazon, que até então
só trabalhara com produtoras do exterior. O diretor tinha
carta branca para filmar regularmente, escalar atores e atrizes, editar os
filmes como bem entendesse.
Em 2007, o site da Brasileirinhas contava com cerca de 14
mil assinantes. Em 2012, a internet já representava 50% do faturamento da
empresa. O problema é que a migração não foi, nem tem sido, proporcional. O
faturamento da venda de filmes representa menos de um quarto do que era há
cinco anos. E, se em 2007 a produtora jorrava por volta de 100 filmes por ano,
no começo de 2013 esse número já havia caído para aproximadamente trinta
títulos. Hoje, lança-se uma média de um filme por mês.
Renata, a segunda namorada de Clóvis Basílio dos Santos,
também era prostituta. Ele continuou no ramo dos escapamentos por alguns meses,
até que decidiu pedir demissão e mudar de cidade. Em 1974, arrumou serviço como
torneiro mecânico em Sumaré, ao lado de Campinas, no interior paulista. Fazia
eixos de caminhão para uma multinacional americana. Juntou algum dinheiro nesse
emprego. Com o que sobrava do salário, viajava para São Paulo nos fins de
semana. Desembarcava na cidade logo depois do almoço e passava o dia em salas
de cinema, vendo pornochanchadas. Então perambulava por zonas de prostituição.
Às vezes tomava um ônibus para Santos. “Eu chegava dez, dez e meia da noite na
Baixada Santista, e ia direto para a zona do cais.”
A metalurgia, setor em que Basílio dos Santos trabalhava,
esteve no centro das mudanças políticas dos anos 70. Foi das greves do ABC
paulista, no final da década, que Luiz Inácio Lula da Silva despontou
nacionalmente. Quando perguntei a Kid Bengala sobre esse período, e mais
especificamente sobre a ditadura, ele não pareceu muito interessado, e até se
confundiu sobre quem estava no poder. Para ele, a década de 70 foi “a época das
pornochanchadas”. O ano de 1982 foi quando o “HIV começou a pegar mais”. E
1990, “o período pré-Viagra”.
Após trabalhar um tempo em Sumaré, Basílio dos Santos foi
promovido a fresador ferramenteiro. Seu salário dobrou e ele se mudou para São
Paulo. Na capital fez novas amizades, e em 1976 passou a organizar orgias. “Eu
convencia os amigos, fazia festinhas. Não era nada pago ou profissional.” Viveu
bem por alguns anos. Na passagem para a década de 80, contudo, em meio a uma crise
econômica que assolaria o país por vários anos, ele perdeu o emprego.
Foi um período difícil. “Entrei para a construção civil, fui
trabalhar de pedreiro”, lembrou. Havia uma ironia melancólica na situação. Seu
pai, com quem tivera sérios atritos na infância e na adolescência, também havia
sido pedreiro. No fim dos anos 80, com as finanças mais estáveis, ele voltou a
organizar festas. Conheceu “casais liberais” da elite que também se
interessavam por sexo grupal. Entre os novos amigos, havia um homem famoso de
tevê – “Não vou citar o nome dele, já está velhinho”. Tinha um fetiche
voyeurístico: gostava de ver negros transando com loiras. Arregimentava
mulheres dispostas a satisfazer essa vontade, e depois ligava para Basílio dos
Santos. Certa vez, um agenciador de prostitutas levou a própria mulher para
transar com Santos, enquanto o adepto famoso do fetichismo assistia à cena.
Assim como as prostitutas do cais santista, o agenciador se impressionou com
Bengala. Deixou-lhe um cartão.
Passou quase um ano até que Basílio dos Santos decidiu
contatar o agenciador, que lhe apresentou ao dono de uma revista. Foi ao Rio
fazer um ensaio fotográfico e lá conheceu um produtor de cinema, Carlo Mossy.
Brasileiro nascido em Tel-Aviv, que fizera fama na época das pornochanchadas,
foi Mossy quem lhe deu o apelido fálico que adotaria para sempre.
Em seu ensaio célebre, mas estranhamente moralista, “Big red
son”, o escritor americano David Foster Wallace caçoa da vulgaridade do
festival Adult Video News, AVN, em Las Vegas, que todo ano escolhe os melhores
da indústria pornográfica americana. Gil Bendazon se orgulha dos prêmios que
recebeu. Antes de ser contratado pela Brasileirinhas, trabalhou com produtoras
americanas, como Elegant Angel e Combat Zone, e se refere a esse mercado e seus
diretores como o padrão-ouro, o máximo do pornô. John Stagliano é seu François
Truffaut. “Ele visitou minha casa”, disse Bendazon na sede da produtora,
sussurrando, como se revelasse um segredo.
Stagliano é considerado um dos mais inovadores diretores da
história do pornô. Até o fim dos anos 80, os filmes em geral aspiravam a uma
estética hollywoodiana. Tinham enredos, atuações e trilha sonora na hora do
sexo. Inventor do pornô gonzo – nome que faz referência ao jornalismo gonzo, de
Hunter S. Thompson –, Stagliano procedeu a uma revolução na indústria.[1] Seus
filmes, lançados no início da década de 90, dispensavam enredo, trilha sonora
ou produção. Em seus primeiros vídeos, ele e Rocco Siffredi, um ator
pornográfico italiano que viria a se tornar famoso, flanavam pelas ruas.
Abordavam mulheres e as convidavam para a cama. Sem enredo, sem firulas. Quase
sempre eram atrizes contratadas, mas o objetivo era criar uma atmosfera
prosaica, de encontro acidental. Às vezes, Stagliano se inseria na cena –
filmava enquanto transava e fazia comentários para a câmera. O pornô gonzo se
espalhou. Filmes como os de Stagliano eram baratos de fazer, e a demanda por
esse tipo de pornografia, a julgar pelo sucesso de vendas, estava reprimida. A
indústria adotou o estilo.
Bendazon é entusiasta do gonzo. “O punheteiro”, disse de
modo enfático, “não quer saber de historinha, de narrativa.” Assim como Kid
Bengala, os clientes fiéis – os que alimentam as caixas de e-mail da
Brasileirinhas – estão mais interessados nas minúcias da transa em si. Bendazon
defende o enfoque no ato, mas não participa das cenas – como dirige vídeos
institucionais e comerciais de tevê, costuma cobrir a cabeça com um capuz nos
sets pornográficos para preservar sua identidade.
Uma das razões que determinaram a contratação de Bendazon
foi sua eficiência. Segundo Nunes, “o Gil não precisa de cinegrafista, de
iluminação, de auxiliar para isso, para aquilo. É ele e mais uma pessoa no set.
E só”. O apreço do empresário não se restringe ao aspecto econômico. Pelo
estilo minimalista, Bendazon tem o que Nunes chama, um pouco eufemisticamente,
de “ganho de privacidade nas cenas”. Os atores e atrizes se soltam mais, ficam
menos inibidos. A atmosfera do real – o éthos do pornô gonzo – fica mais
palpável. Há também certa admiração pessoal: “Quando descobri que tinha um
brasileiro ganhando AVNs, fiquei animado, quis trazê-lo”, Nunes disse.
Bruna Ferraz, uma das estrelas do meio, participou do
momento áureo do pornô nacional. Chegou a fechar um pacote de dezoito cenas com
a Brasileirinhas por quase 200 mil reais. “Ganhei uma bolada na época”, contou
quando nos encontramos na entrada de seu prédio, na rua Oscar Freire, em São
Paulo. Bruna, que adotou o sobrenome de uma atriz da Globo que admira, vestia
uma blusa de renda branca decotada e calça colada. A maquiagem, em tom
verde-escuro, estava particularmente concentrada ao redor dos olhos,
conferindo-lhe um quê das mulheres retratadas por Toulouse-Lautrec.
Nascida em Alegrete, uma cidadezinha gaúcha perto da
fronteira com a Argentina, Bruna foi adotada por uma mulher católica e criada
num ambiente conservador. Quando menina ia sempre à missa. Continua religiosa,
mas suas crenças atuais são um amálgama de candomblé, misticismo (“Todos temos
anjos da guarda”) e monoteísmo (“Ele é o mais importante, acima de tudo”). Às
vezes a atriz escuta vozes. “Sempre femininas”, disse. “Elas me dão instruções:
faça isso, não faça aquilo.”
Aos 18 anos Bruna saiu de Alegrete e se mudou para Porto
Alegre. Pouco depois foi para Foz do Iguaçu e começou a dançar em boates. Aos
24 anos, incentivada por uma amiga, foi para São Paulo, onde se destacou como
dançarina e logo começou a receber convites para eventos de revistas. Mas o que
suscitou o interesse da indústria pornográfica foi sua presença em vídeos da
internet – como já era bastante conhecida, pôde negociar um bom cachê.
Ela foi contratada numa época em que certas celebridades
começavam a se aventurar no ramo. Um deles foi o ator Alexandre Frota, que
deixou lembranças ambíguas de sua passagem pela Brasileirinhas. “Até a chegada
dele, o pornô era totalmente marginalizado, um estigma que vinha desde a época
da boca do lixo, das pornochanchadas”, comentou Nunes, e completou: “Frota
desmistificou isso.” No entanto, o ator e outros que, como ele – Rita Cadillac,
Gretchen, Mateus Carrieri –, rodaram filmes esporádicos só atraíram clientes
sazonais. Os fãs assíduos da produtora, os “punheteiros” que sustentam a
empresa, não gostam de celebridades. “Frequentemente mandam e-mails reclamando,
ou então comentam em fóruns – ‘Pô, e aquela cena risível de Alexandre Frota, o
pior ator pornô do mundo?’”, disse Nunes.
Bendazon também é cético em relação ao potencial dos famosos
no mundo pornô. “Não dão ângulo, dificultam a vida.” Ele não considera Frota e
outros como “atores pornôs de raiz”. Quando perguntei quem seria esse tipo de
ator, tanto ele quanto Nunes foram categóricos: Kid Bengala.
Bruna ainda atua, mas ultimamente tem se concentrado mais na
carreira de stripper e dançarina. Na última vez que filmou, contou ter fechado
um pacote de três cenas por “algo em torno de 10 mil reais”, muito menos do que
conseguia outrora. Ainda assim, seu cachê é maior que o de outras atrizes. A
maioria dos entrevistados estimou ganhar, por cena, entre 200 reais – de
produtoras menores, independentes, que burlam requisitos legais e nem pedem
identificação aos participantes – e 1 500 reais – de produtoras renomadas e
estabelecidas. Ninguém quis declarar exatamente quanto ganha.
Se, por um lado, a revolução gonzo libertou a pornografia do
pastiche, da imitação de segunda mão de Hollywood, ela também facilitou a
cultura do “Faça você mesmo”, lema do empreendedorismo. O pornô amador, filmado
por pessoas em suas casas ou lugares públicos, é hoje responsável por uma fatia
significativa do consumo.
Nunes não acredita que a produção amadora seja a pá de cal
das produtoras. “São nichos. O cara que vê filme amador em geral só gosta de
filme amador. Muitas vezes o que o atrai é o fato de que aquilo foi filmado sem
consentimento, por exemplo. Não é o que a gente faz. A Brasileirinhas é
conhecida pelos filmes bem-feitos, acho que nem se quiséssemos conseguiríamos
mudar essa imagem.” O problema maior, na avaliação de Nunes e Bendazon, são a
pirataria na internet e os sites que disponibilizam conteúdo ilegalmente, de
graça. É um problema insolúvel, impossível de monitorar. O mercado para DVDs
pornográficos está a ponto de se extinguir. “Hoje você lança um DVD para
mostrar que está vivo. Virou operação de marketing. Não dá lucro nenhum”, falou
Nunes.
No dia da filmagem, no carro, quando já voltávamos a São
Paulo, Bendazon contou que dentro de seis meses a Brasileirinhas provavelmente
não lançaria mais DVDs para venda; o acervo será apenas digital. Do banco de
trás, Loupan, que acabara de atuar aquela tarde, se assustou: “É sério?”
Paulistano do bairro de Santa Cecília, moreno, baixo e
forte, Loupan, de 31 anos, sempre começa as frases como se estivesse a ponto de
fazer uma revelação (“Posso te falar uma coisa?”, “A verdade é a seguinte”), e
conclui com uma piscadela de olho, satisfeito. Ainda menor de idade, ouviu de
uma de suas primeiras namoradas a sugestão de trabalhar como ator pornográfico.
Dois dias depois de completar 18 anos, fez um teste. Foi aprovado e nunca mais
parou de atuar. Orgulhoso da profissão, ele com frequência menciona os bens
conquistados com seu trabalho – carro, casa própria (“Comprei meu primeiro
apartamento aos 21 anos”) e, mais recentemente, um curso de inglês. (Naquela
tarde, um pouco antes das filmagens, Lolah o chamou para estudarem juntos.)
Loupan não esconde a raiva dos piratas: “Dá vontade de
entrar no computador e espancar esses caras”, disse-me, deitado numa cadeira ao
lado da piscina, com os olhos semicerrados e uma expressão serena que
contrastava com suas frases incisivas. “Não gosto muito de jornalista”, disse a
certa altura, calmo, sem traço de agressividade. Ele não vê na pirataria um
problema sistêmico. É uma questão de caráter: “Tem muito espertalhão no mundo.”
Apesar de criticar os que pirateiam, e tacitamente admitir o declínio da
indústria, Loupan não acredita que sofra ou venha a sofrer as consequências da
queda. “Quem é bom é bom, não tem concorrência.” É uma atitude comum no meio. O
declínio é aceito em termos abstratos, mas nunca de maneira individual,
concreta. A regra geral é válida, mas todos se consideram exceções.
Sérgio, o fotógrafo da equipe, paulistano filho de
japoneses, de 56 anos, é um que não se esquiva de admitir a decadência.
Preserva a identidade por razões financeiras. “Antes a gente sustentava a
família com o pornô, mas agora, que já não dá tanto dinheiro, não é legal se
expor.” Como atua em outras áreas – sobretudo fotos para jornais e anúncios de
joias –, prefere manter o anonimato. De estatura média, camisa polo, óculos de
grau e um ar tranquilo, só uma tatuagem na parte interna do antebraço destoa de
seu aspecto circunspecto. A tatuagem traz o sobrenome de sua família, grafado
em japonês.
Para Sérgio, o declínio da fotografia antecedeu o do pornô.
“O trabalho do fotógrafo profissional ficou muito difícil. Você mesmo poderia
ter tirado uma foto para essa matéria com seu telefone, não é?” Por já ter
experimentado uma turbulência, ele parece ter uma visão mais abrangente do
assunto. Evitando a atitude negacionista com que muitos tentam se defender de
um futuro sombrio, Sérgio enxerga a decadência da indústria dentro de um
contexto maior – é apenas mais uma das áreas que têm sofrido com o advento das
novas mídias. “Como o jornalismo, né?”, disse, com um sorriso cúmplice.
Em Experiência, seu livro de memórias, o escritor britânico
Martin Amis discorre sobre a dificuldade de escrever bem sobre sexo. O problema
consistiria no fato de cada ser humano ter preferências muito específicas nesse
âmbito, e daí ser complicado extrair de uma experiência concreta, individual, a
universalidade necessária à literatura: o oxigênio da empatia. Diante de um
sem-número de opções narrativas, recorremos a clichês.
A premissa de Amis é perceptível em filmes pornográficos.
Ainda que diferentes uns dos outros, todos eles têm um componente ritualístico
e previsível. As interlocuções são sempre as mesmas (“Vai, vai!”, “Que bom!”,
“Caralho!”), bem como a apresentação, regida por padrões e modas (genitália
depilada, maquiagem densa).
Bendazon me prometera acesso à cena que iria filmar,
frisando, porém, que eu não deveria permanecer dentro do cômodo, para não
constranger os participantes. O aparente paradoxo se resolveu. No dia da
filmagem, postado do lado de fora da casa, eu poderia espiar por entre uma
cortina de bambu que resguardava o set.
Não assisti mais do que uns poucos minutos, incomodado por
assumir aquele papel de voyeur. A filmagem ocorria no mesmo quarto que, horas
antes, quando chegamos para o café da manhã, parecia escuro e melancólico, com
colares carnavalescos espalhados pelo chão. Gil Bendazon, encapuzado, segurava
a câmera; Black se concentrava no laptop, sem capuz; Cindy movia-se sobre
Loupan, que estava deitado num sofá; Lola revezava seus esforços entre os dois.
A cena, genérica e similar a tantas outras, o reflexo do vidro e o isolamento
acústico me davam a impressão de estar vendo um filme através de uma tela.
Tarde da noite, terminada a filmagem, todos foram recolher
suas coisas para voltar a São Paulo. Na sala sobrou apenas Kid Bengala, que
havia interrompido a entrevista comigo para gravar a apresentação da Casa das
Brasileirinhas. Retomamos a conversa. Largado no sofá, sem camisa, as câmeras
desligadas mas ainda apontando em sua direção, Bengala voltou a falar de si.
Após rodar seu primeiro filme pornográfico, em 1990, no Rio
de Janeiro, o ator ficou apenas alguns meses na cidade. Fez mais dois filmes,
“para aprender a lidar com as câmeras”, e esperando ser chamado para atuar no
exterior. Ouvira que profissionais como ele ganhavam muito dinheiro na Europa e
nos Estados Unidos. (Anos depois descobriria que os atores de fora não eram tão
bem remunerados: “Essa história é balela. O que se ganha aqui ganha-se lá, a
diferença é pouca.”) De todo modo, como na época ainda não existia uma
indústria nacional de pornografia, Bengala retornou a São Paulo. Seguiu sua
vida como fresador ferramenteiro e retomou as orgias com amigos.
Um desses amigos, Sandro Lima, viria a se tornar
cinegrafista da Brasileirinhas. Quando o mercado cresceu, por volta de 2003,
2004, ele convidou Bengala a voltar à ativa. A princípio, o ator não acreditou
que a proposta pudesse cobrir seu salário na fábrica – lembrava que em 1990 o mercado
não pagava bem. Ofereceram muito mais. Já na casa dos 50 anos, ele assinou um
contrato de dois anos e logo passou a ser um dos atores mais importantes da
pornografia nacional, a ponto de ser disputado pela concorrência.
Contou que há poucos anos a Falotex, empresa que produz
extensores penianos, investiu na criação de uma réplica de seu pênis. A Adão e
Eva Toys, uma outra empresa, recentemente fez uma oferta para expandir em
escala nacional a distribuição do artefato. Bengala ganha royalties sobre cada
unidade vendida. Quando perguntei se o declínio da indústria poderia afetá-lo
de alguma forma, ele foi enfático, passando do uso da primeira para a terceira
pessoa: “A queda do pornô nunca alterou minha vida, em nada. Porque o Kid
Bengala é um ícone.”
Estimulado pela notoriedade alcançada, em 2008 o ator
decidiu candidatar-se a vereador pelo PPS (Partido Popular Socialista). Fez
campanha em prostíbulos, cabarés, boates. Abordou camelôs que vendiam seus DVDs
na rua 25 de Março. Conseguiu menos que mil votos. Afetado pela derrota, teve o
que define como uma “semidepressão”. Passou um tempo na Europa, filmando em
Hanover, na Alemanha, e em Salzburgo, na Áustria, mas não se adaptou. “Fiz uma
doideira”, disse, referindo-se à eleição. “Candidato de primeira viagem sempre
acha que vai ganhar.” No ano passado, no entanto, voltou a se candidatar, desta
vez a deputado estadual pelo PTB. Com pouco mais de mil votos, foi novamente
derrotado.
Ele desacelerou o ritmo da fala ao comentar os reveses. Mas
o desânimo durou pouco. Alguns instantes depois, Bengala já estava falante e
efusivo novamente. Enquanto discorria sobre a sua vida em São Paulo e a
ascensão ao estrelato pornô, interrompeu o raciocínio, como se tivesse
esquecido de dizer algo importante. Parecia o prelúdio de mais uma digressão
sexual, talvez uma lembrança do cais de Santos e das suas primeiras namoradas.
Mas, sorrindo, ele apenas arregalou os olhos e perguntou na minha direção: “Ô,
jornalista, você já viu o tamanho dele?”
por Alejandro Chacoff
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